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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Mensagens

Mensagens por celular talvez seja uma das melhores e piores coisas já inventadas recentemente. Pode ser ótimo para algumas situações como: "Onde você está ?" E o outro: "Tô aqui na praça, em frente a estátua onde os pombos cagam na cabeça." E a outra responde: "Ahh.. tô na esquina, já tô indo pra aí." Pode ser ótimo para um desfecho de noite entre um casal: "Boa noite meu querido! Foi uma noite inesquecível! beijos! Te amo!"  Mas mensagens de texto dão margem a mal-entendidos. O cara quer falar X e a mulher entende Y. Ou vice-versa... Não tem o cara-a-cara, a linguagem corporal, a postura, a entonação... Acho que quanto menos escrever melhor. Ou, então, quanto + clara a mensagem melhor, quanto + assertivo melhor. Tipo: "Amor, agora não dá pra falá nem fudenu, tô numa corria doida, perdão! Falamu + tarde. Bj" Já ouvi muitos relatos de amigos que brigaram com as namoradas por mensagem de texto. Putz... Porque não liga porra ??? Pelo menos por telefone dá pra sentir a voz do outro, a emoção, a entonação... etc. Mas tem gente que solta os cachorros por mensagem e, depois, bloqueia a outra pessoa no telefone. Pode ? E quando o casal está apaixonado ? Aí esquece... é só besteira o tempo inteiro. "Liga no canal X: programa tal. bj" Ou então: "Minha colega de trabalho falou uma coisa hilária agora wwwww". Quer dizer... X... e o que isso representaria para o francês dos 1700 ? Ou para o tupinambá dos 1500 ? Ou para o inglês dos 1400 ? Ou para o grego de 200 AC ? Um absolutamente nada! Uma trivialidade. Menos que uma folha caindo de uma árvore. Mas as pessoas hoje em dia têm urgências!!! Querem ser correspondidas na mesma hora, no mesmo minuto! Ohh... não me respondeu de imediato... Tô magoado... Vivemos uma crise emocional coletiva de proporções bíblicas. O homem demorou milhões de anos para ser o que é hoje. Homo sapiens sapiens. O que representa uma progresso para a espécie, mas também não quer dizer nada... Um dia seremos extintos assim como os dinossauros. A evolução biológica, dos costumes, das tradições, das leis e recentemente da ciência (que é uma criança) foi sempre lenta e gradual. Mas de 30 anos para cá a humanidade experimenta uma revolução tecnológica nunca antes vista. E a maioria das pessoas ainda não se adaptou. Nem eu. Estamos nos adaptando, aos poucos. É muita informação e tecnologia para pouca inteligência emocional no dia-a-dia. Por que que tem que ter novidade todo dia? Toda hora? Você não consegue ficar sozinho um pouco com seus pensamentos e emoções? É muito chip para poucas gentilezas. É muita urgência para pouca paciência.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O vazio

Página em branco
Por escrever
Tela intacta
Pedra bruta
O tempo parado
Nada a acontecer

Estás num deserto
Horizonte vasto
Sozinho...
Silêncio...
Ninguém por perto

A casa vazia
O telefone mudo
Na rua deserta
Somente um cão vadio
E o eco do seu próprio pensamento...
O vazio... o vazio...
                         (Geraldo Meirelles)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ao leitor

         
          "Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito dez. Dez ? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Stern ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
          Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
 
                                                                                                                              BRÁS CUBAS"
 
(Prólogo da obra "Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis)

Obs.: Foto tirada no bairro da Aclimação, em São Paulo. Notem que a placa grafa o nome Brás com Z e não com S, como o nosso personagem póstumo. Se alguém, porventura, souber a quem se refere esta placa de rua, agradeço.