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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Em defesa da democracia

As eleições de 2018 distanciaram-se do tradicional modelo PT x PSDB, iniciada há 24 anos, e tomaram uma forma emocional e violenta em torno do antipetismo, encarnado pelo candidato Jair Bolsonaro. Não é uma eleição em que se votará a favor de alguma causa ou alguém; mas se votará contra alguma coisa. De um lado, se votará contra o PT, o Lulismo e o que isso representa de ruim (populismo, clientelismo, mensalão, petrolão, alianças espúrias, política de desoneração fiscal para alguns setores da indústria). De outro lado, se votará contra o Bolsonaro e o que ele representa de ruim (autoritarismo, militarismo, armas, machismo, pseudo-liberalismo, conservadorismo, elogio a torturadores, falta de um programa de governo). É triste e preocupante ver o Brasil tão polarizado dessa forma, com pouco espaço para diálogos abertos, respeitosos e construtivos. Em verdade, não se viu apresentação de propostas detalhadas e concretas. Como se não bastasse, assiste-se a uma guerra digital e a uma batalha para estimular a desinformação no país que mais acredita em Fake News. Em um país em que poucos lêem, as notícias falsas se disseminam. Isso ocorre em todas os segmentos da sociedade. Até na classe média alta existe desinformação, ignorância histórica e condutas apelativas. O brasileiro é movido pelo coração (vide Sérgio Buarque de Holanda) e pouco afeito à racionalidade, de modo que as emoções tomam conta do debate político nas redes. Seja como for, devemos respeitar a nossa democracia que, depois de 21 anos de ditadura militar, foi reconquistada por uma ampla luta da sociedade. Bem por isso, vibrei com o corajoso ato das mulheres que gritaram ELE NÃO. Bolsonaro encarna o antipetismo, mas também um perigo à democracia. Eleito deputado federal, vem se reelegendo há 27 anos; já passou por 7 partidos e não apresentou sequer um projeto de lei relevante para o país. Trata-se de pessoa autoritária, que desrespeita minorias, flerta com o militarismo e elogia torturadores. À semelhança de Jânio Quadros, o candidato do moralismo (que se elegeu prometendo acabar com rinhas de briga de galo e biquinis na praia), e Collor (o caçador de marajás), trata-se de um aventureiro que surfa na onda de indignação da classe média com a corrupção, mas não tem programa de governo. Não caia nesse engodo! Acima de tudo, precisamos defender a democracia, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, o Estado Democrático de Direito, a Constituição da República e os direitos fundamentais nela assegurados.