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sábado, 28 de dezembro de 2013

Aberrações da Humanidade

Quando você não consegue viver sem ler e escrever...quando esse hábito vira rotina, sina, mania, roteiro do dia-a-dia, não se envergonhe; pelo contrário, se orgulhe: você também foi picado pela mosca azul da galhardia... da fantasia... da poesia...Mesmo que não dê em nada, você está exercitando o pensamento e, muitas vezes, o bom-humor, ingrediente essencial para a refeição mental e essencial do dia. Hoje, novamente, a melhor coisa que li no jornal foi a coluna do Marcelo Rubens Paiva, que está cada vez melhor. Querido Marcelo, se você ler esse desconhecido blog, me escreva para combinarmos um café (com açúcar do açucareiro tradicional). Segue:
 
ABERRAÇÕES DA HUMANIDADE

Marcelo Rubens Paiva - O Estado de S.Paulo

Sachê

Você sabe muito bem do que estou falando. Onde estão aqueles recipientes com mostarda e ketchup com que estávamos habituados, e aprendemos a espremer antes de escrever? E o saleiro, o açucareiro, a maionese no pratinho, com uma espátula apropriada? É mais raro encontrá-los do que guardanapos de linho. A Vigilância Sanitária, o lucro insano das corporações e o capitalismo selvagem nos obrigam a conviver com desagradáveis e minúsculos sacos plásticos não biodegradáveis que, dizem, contêm o condimento necessário para a nossa refeição. Como abrir? Com unhas? Dentes? Dentadas e unhadas? Imaginam que andamos com canivete suíço no bolso? Como abrir sem escorrer a metade do condimento? Como abrir sem espalhar pela mesa ou pelo colo ou, pior, espirrar no rosto do garçom, um saco que não fora planejado para ser aberto, mas para apenas armazenar uma porção que alguém arbitrariamente julgou a necessária. Bem, minhas fritas precisam de dezenas daqueles saquinhos. E tiveram a cara de pau de inventar sachê com azeite, vinagre e até shoyu. Queria que o inventor dessa barbaridade almoçasse numa cantina tradiça com a minha família italiana e tentasse temperar a salada, entre as polêmicas e discussões de sempre de domingo. Sem usar os dentes.
Protocolo de Atendimento
Outra aberração da humanidade. Já tive quatro protocolos de atendimento numa reclamação para o SAC de uma telefônica num telefonema de 30 minutos. Média: um protocolo a cada sete minutos e meio. No quarto, me perguntei o que foi feito com o coitado do primeiro, perdido, esquecido solitário no buraco negro que eles nomearam "sistema". E se precisamos de quatro, por que nos soletram três antes. Nossa vingança é quando fingimos que anotamos o protocolo de atendimento. "Senhor, por favor, anotar o protocolo de atendimento." Claro, querida, pode falar, estou anotando no meu álbum de protocolos de atendimento, que coleciono desde quando inventaram o protocolo de atendimento, meses depois de inventarem o atendimento. E repetimos em voz alta um número infindável, enquanto checamos e-mails, postagens nas redes sociais, confirmamos presença em eventos em que não daremos as caras... Se tivessem a mesma eficiência nos atendimentos que no exercício de dar protocolos de atendimento, o mundo seria com bem menos protocolos. E os consumidores ligariam bem menos para o atendimento.
 
Controle Remoto
Foi uma bela invenção. Que piorou a saúde da humanidade, aumentou o sedentarismo e nos deixou mais atordoados. Invenção que, com o tempo e o avanço tecnológico, piorou, como o relógio digital que está até em eletrodomésticos de linha branca, piscando teimosamente no 00:00, já que não sabemos programá-lo. Tá. Não bastam os botões de ligar, desligar, volume e canal. Existem dezenas deles, com números que não são parte de uma calculadora e símbolos que não fazem sentido, indicações e termos que só conseguem ser lidos com a ajuda de um microscópio. O controle da minha TV, comprada no Brasil, tem as opções power, source, ch, pre-ch, mute, ch.list, w.link, tools, return, info, exit, cc, mts, p.mode, e.mode, p.size, fav/ch, números e flechas... E, claro, um enter que, cuidado, se você apertar, a TV não funcionará por sete dias, até seu sobrinho geek fazer uma visita. Como se não bastasse, precisamos de três deles, às vezes mais, para assistir àquele filminho água com açúcar com a família. E sincronizar operações, como abaixar o volume da TV, aumentar o do Blu-Ray e mudar para modo HDTM3. Muitas vezes, quando acertamos e, milagre, o volume está OK e a legenda sincronizada, parte da família ronca ao lado. Mais fácil pilotar um caça sueco. Quer uma dica quando der pau? Uso aqui em casa: tira da tomada, conta até 15 e coloca novamente. Geralmente dá certo.
 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Palhaço

Não sei porquê, mas hoje me deu uma vontade danada de escutar Nelson Cavaquinho. Ficar à toa, destilando emoções... Fui à Rua Augusta, um pouco acima do restaurante Piolim (restaurante de artistas e com o nome de um palhaço conterrâneo) e vi um CD restaurado, de um Álbum lançado em LP pela RCA Victor em 1986. Um achado...Mentalmente, dei uma cambalhota no meu imaginário trampolim...

"Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta, que a platéia te reclama
Sei que choras palhaço
Por alguém que não lhe ama

Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta, que a platéia te reclama
Sei que choras palhaço
Por alguém que não lhe ama

Enxuga os olhos e me dá um abraço
Não te esqueças, que és um palhaço
Faça a platéia gargalhar
Um palhaço não deve chorar

                  (Osvaldo Martins, Nelson Cavaquinho e Washington)


O palhaço é o homem mais triste que existe.
E é o personagem que mais traz alegria às crianças...
É o paradoxo da humanidade.
Aquele que condensa um momento em eternidade...
é a própria humanidade, encarnada em pessoa.


No final das contas, somos todos palhaços.
Principalmente os homens,
E é isso que nos redime.
E é isso que nos imprime,
uma cara humana.
Precisamos desvendar nossa alma
Olhar lá no fundo alguns essenciais traços
Rir dos nossos tropeços...
Descobrir o mais querido palhaço em nós mesmos.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O Espanto...




O ESPANTO
 
Essa foto da imagem, da televisão (mas que consegui), reflete um pouco do que foi o assombro das torcidas diante do fenômeno, do jogador, do mito: Pelé. Para quem não viveu essa época, como eu, que só lembrava das estórias dos pais, dos avós e dos tios, e acreditava em Pelé mais vivamente do que em Papai Noel...recomendo entusiasticamente o filme "Pelé Eterno", de Anibal Massaini. Minha madrinha, santista roxa, já assistiu esse filme pelo menos sete vezes. É um mergulho no passado, do melhor futebol jogado nesse país. Era uma outra época essa década de 1960... Era o futebol romântico, o futebol moleque, o futebol menino... Onde não tinha muita propaganda, nem espetacularização, nem consumismo. Cada um era o que era. Não adiantava se maquiar frente às câmeras. Na verdade, não tinha maquiagem. Tinha malandragem. Isso sim. Que pena que essa época se foi... Jogadores forjados na várzea, na praia, nos campinhos disputavam um lugar ao sol nos campos de futebol... Quem não fosse bom não jogava. Simplesmente. Era uma era de autenticidade no futebol.

"(...)
Chega o ano de 1958,
Ano de Copa do Mundo,
O grande sonho de Pelé é jogar
o Mundial pela seleçãol brasileira.
Para ele, cada partida,
é uma oportunidade de superação.

O endiabrado criolino transforma uma simples
partida contra o América,
num recital de futebol.
Não é desonra ser derrotado por um fenômeno,
que é um desafio à imaginação."
                                              (Armando Nogueira)

Obs.: nessa partida, Pelé fez 4 gols na vitória do Santos por 5x3 contra o América.
E como diria meu pai, "fora o baile..."

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Convento da Penha - Espírito Santo


Descobri este ano que Vila Velha já não tem nada de velha
Nem de vila, infelizmente...
E, embora garantam que é possível segui-las
Parece-me que as pegadas do Anchieta foram apagadas...
Pela chuva, pelo vento e pelo tempo...
Mas procuro conservar esta imagem na mente

Subi a ladeira da penitência para ver o Convento da Penha

Marco histórico da nossa colonização
Construída no século XVI, em cima de uma pedra
Lugar propício para uma oração

Lá de cima, andando por cima das pedras
E lá de dentro, passando por diversos cômodos
É possível uma visão de 360 graus
Vila Velha e Vitória
Ver o continente e o oceano

E apreender tudo na memória

É possível falar consigo mesmo
E tal como Bibiana, com o vento...
É possível contemplar o horizonte
E você nem vê passar o tempo
Pois não é possível segurá-lo
Nem estancá-lo
Ele escorre por entre as horas...
Corre depressa como o vento
Galopa incessantemente
Mas às vezes anda.
E se esconde, logo ali
atrás do histórico Convento

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Coral de Jovens do Instituto Baccarelli

Caríssima amiga Railídia

Semana passada, minha amiga, tive uma alegria imensa!
Lá onde eu trabalho houve uma festa!
Uma cantoria no meio da tarde!
O Procurador-chefe da Procuradoria (é...é assim que eles
se referem a quem está no andar de cima da burocracia...)
contratou o Coral de Jovens do Instituto Baccarelli, da
favela de Heliópolis, para dar um show para os servidores...

Me emocionei, fiz força para não chorar...(Por que ?
Que bobo que fui, devia ter chorado...)
Pois foi muito emocionante ver todos aqueles jovens de
15, 16 e 17 anos cantarem todas aquelas músicas,
tão bem ensaiadas, e com toda aquela emoção e ternura...
Um coral é sempre um coral...
Há que ter uma união muito forte, não só física, mas emocional...
Me senti em casa. Ou melhor: como se estivesse num arraial...
E o produto foi um frescor de juventude cantando músicas...
Pura magia! Foi verdadeiramente uma pintura...

Primeiro ato: um auditório vazio que vai se enchendo aos poucos, mas bem aos poucos...com servidores públicos tímidos querendo companhia para não sentarem sozinhos no grande auditório.

Segundo ato: um servidor público vai até o microfone, às 17h25m, em plena quinta-feira, e anuncia a grande atração do dia: Coral de Jovens do Instituto Baccarelli, cujo site é: http://institutobaccarelli.org.br/ Diz que tudo começou quando o grande maestro Baccarelli viu um incêndio na favela de Heliópolis, se comoveu e resolveu fazer a parte dele: fundar uma escola de música e de coral na favela. Todos os jovens que cantam no coral são oriundos da favela de Heliópolis... E emocionaram a todos com o seu canto jovem, experiente!, cheio de frescor, ternura, doçura e amor...

REPERTÓRIO DO DIA (pois o repertório real é muito mais vasto):

We are the world - Lionel Richie/Michael Jackson (Arranjos: Roger Emerson)

Hallelujah - Leonard Cohen (Arranjos: Roger Emerson)

Berimbau - Baden Powell/Vinicius de Moraes (Arranjos: Arlindo Teixeira/ Arranjo de Percussão corporal: Luis Pérez)

Ode à Alegria/Aquarela do Brasil - Beethoven/Ary Barroso (Arranjo: Silvio Baccarelli)

Roda Viva - Chico Buarque (Arranjo: Patrícia Costa)

Epitáfio - Sérgio Britto (Arranjo: Gerson Salcedo/Newton W. Macedo)

Você - Tim Maia (Arranjo: Márcio Mattos)

Noite Santa - Adolphe Adam

Natal branco - Irving Berlin

Terceiro ato: APLAUSOS...APLAUSOS...e mais APLAUSOS...
E uma alegria que invadiu cada um dos corações que ouviu
Aquele Coral...aquelas canções...
E sentiu...
Aquele manancial de emoções...

Parabéns Instituto Baccarelli!
Parabéns a vocês, jovens, de Heliópolis!
A cidade do sol!
A cidade da música!
A nova Polis!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O que justifica o "existir"

IDADE MÉDIA: Temo a Deus, logo existo!


IDADE MODERNA: Penso, logo existo!


IDADE CONTEMPORÂNEA: Consumo, logo existo!


O QUE VIRÁ: Amo, logo existo!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O país das torres medonhas

MILTON HATOUM - O Estado de S. Paulo
 
Há pouco tempo, quando passei por Natal, mal pude reconhecer a Baixa Ribeira, que eu havia visitado nos anos 1970. Nas duas últimas décadas, construíram-se torres em volta desse bairro antigo, um dos mais belos de Natal. Isso aconteceu em outras cidades litorâneas: Maceió, Recife, Salvador, Rio, Fortaleza, Vitória... Santos é mais um exemplo de total desfiguração arquitetônica, mas há torres e fortalezas por toda a parte, até em pacatas cidades do interior.
 
Hoje mesmo, na capital paulista, a paisagem do entorno das casas modernistas projetadas por Gregori Warchavchik está ameaçada pela construção de um edifício-torre.
 
Há menos de vinte anos, um arquiteto teve a ideia luminosa de construir uma torre de 125 metros perto do Masp. O colosso arquitetônico - uma ideia felizmente abandonada - foi apelidado de "pirocão", mas esse lindo apelido nada tem a ver com a metáfora de um ato inventivo, como sugeriu o poeta Gottfried Benn ao dizer que a "palavra é o falo do espírito". O "pirocão" apenas traduz o péssimo gosto verbal (e gestual) de certos arquitetos megalômanos.
 
Na verdade, sentimos horror à memória urbana. Casas e edifícios históricos de municípios e capitais brasileiros foram e estão sendo desfigurados ou destruídos; somos impotentes diante da avidez de algumas construtoras, que demolem a arquitetura histórica e erguem torres de 40 andares. Mas essas barbaridades não seriam praticadas sem a cumplicidade (às vezes secreta) de funcionários públicos e políticos. Alguns bairros de São Paulo, se forem adensados com a construção de novos edifícios-torres, vão parar de vez.
 
Mas há também pequenas barbáries, de grande alcance simbólico. Cinemas que faziam parte da história cultural das cidades brasileiras foram demolidos. Vários tornaram-se sedes de bancos, e outros, horrorosos templos religiosos, que nem mesmo o diabo ousaria visitar.
 
Casas onde viveram poetas, artistas e escritores também foram destruídas. A casa do poeta Thiago de Mello - um dos raros projetos de Lucio Costa na Amazônia - está ameaçada pela ampliação de um porto. Na cidade alagoana de Viçosa, a casa onde morou Graciliano Ramos foi demolida e deu lugar a um condomínio, cuja fachada dispensa comentários. Agora só falta derrubar a igreja Matriz da cidade, onde Graciliano escreveu boa parte de uma obra-prima da literatura brasileira: S. Bernardo.
 
O escritor e crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes assinalou que o descaso em relação à nossa História mais antiga está ligado a um profundo e inconsciente horror ao passado: ódio à miséria social do nosso passado e à opressão colonial. Ele usou uma expressão certeira ao dizer que "as decadências prematuras são doenças do subdesenvolvimento". Hoje, a opressão é de outra ordem, mas essas doenças persistem: basta ver os projetos de habitação popular, onde os pobres são arrebanhados em abrigos vergonhosos. No Brasil, a moradia popular é o avesso de uma vida digna.
 
Na crônica Os Arranha-Céus no Rio Não Fazem Bela Figura", Manuel Bandeira escreveu: "O arranha-céu é uma fatalidade econômica, não é criação artística. Tudo o que se pode fazer é meter a ridículo os snobes que inscrevem o arranha-céu como cláusula de modernidade Quem manda construir arranha-céus está se ninando para as artes, modernistas ou não. Quer é dinheiro".
 
O grande poeta publicou essa crônica em 1928, quando a natureza do Rio ainda era soberana e estava longe de ser ameaçada pela proliferação de edifícios-torre ou pirocões pós-modernos, que nada têm de artístico. Dane-se a história das nossas cidades: na sanha devastadora do urbanismo bárbaro, só o céu é o limite.

                                              (Milton Hatoum - coluna do dia 06/12/2013)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Céu do Espírito Santo - Serra - Brasil





No princípio daquele final de outubro: café da manhã...
Depois, meu amigo, chuva...chuva e mais chuva...
O céu nublado, nenhum programa à vista
Depois da cerveja e do almoço, mais chuva...
Preguiça no corpo...
Era sábado, era sábado...
Ou, seja, ainda tinha uma janela...uma vista...

E não é que, de repente, lá na Serra...
Minha prima Daniela, num arrojo de vontade
Me pergunta com som de novidade,
Vamos conhecer um pouco a terra ?

Claro! Vamos! Estou aqui pra isto!
Saímos ali da Serra e fomos pra Manguinhos
Dani, Gê e Clara...
(Raul ficou com Scarim, ambos como anjos, dormindo...)
Mais isso é uma coisa rara...
Que beleza! Que doçura!
E enquanto o carro ia zunindo,
parece que o céu ia se abrindo...
Numa tempestade de cores e nuvens...
Até que o vermelho e o amarelho apagaram a brancura...
E preencheram a aquarela desse Brasil, sorrindo...

domingo, 1 de dezembro de 2013

Saudade do Brasil

Caríssimo amigo Fernando Szegeri

Estou com saudades dos nossos papos!
Lembras-te quando saíamos dos nossos quintais...
Ambos guapos!
De onde ainda tinha tamarindo, hortas...
Roseiras...e bambuzais ?
 
E íamos a pé, alegres, assistir a um jogo
No mítico Pacaembu ?
Quando tudo era só festa...
E o jogo ainda era jogado, catimbado...
Sem essa marcação hedionda do bel-ze-bu ?

Descobri um novo canal de televisão, meu amigo, que eu não conhecia: o canal Brasil. Que beleza! Dias atrás assisti ao filme "Os desafinados", com Selton Mello, Cláudia Abreu (Glória), Rodrigo Santoro (Joaquim), Alessandra Negrini (linda!), Jair de Oliveira, Antonio Pedro e, como diziam aqueles velhos "reclames" (ainda existe isto ?) "e grande elenco...". Quer dizer, esta última expressão era colocada não só para disfarçar a pequenez ou o anonimato dos demais atores e atrizes, como para engrandecer o filme. Que beleza! Peguei o bonde andando...quer dizer, com o filme já no começo. O bom de assistir filme em casa é que você pode ir petiscando algo ou bebendo alguma coisa enquanto "a fita" rola. "A fita" é do tempo do Sérgio Buarque de Holanda. Eu já sou um pouco mais moderno, sou do tempo do "video-tape". Caramba...Acho melhor não me expor tanto...Enfim, o filme se passa nos anos 60 e fala de uma trupe de músicos que sai do Brasil e vai para Nova York tentar "ganhar a vida". Que expressão essa, hein ?! A gente não ganha a vida quando nasce ? É...parece que não...Bom...eles vão para Nova York e o Joaquim se apaixona pela Glória. Já viu isso ? Parece filme não ?! E um brasileiro se apaixonar por uma brasileira lá fora, no estrangeiro, parece uma coisa bastante recorrente. Um dia algum antropólogo vai escrever uma dissertação de mestrado sobre isso, pode apostar! Parece-me que a saudade do Brasil une as pessoas lá fora. Já senti isso quando morei em Londres. It's true. E lá fora a gente só fala bem do Brasil. É impressionante! Mas, logo que a gente chega, a gente olha, observa, escuta...e se sente um estrangeiro nas primeiras semanas. A gente começa a comparar tudo: a paisagem, os hábitos, os transportes, os costumes, o respeito ou o desrespeito às regras, os tipos de conversas, a relação entre as pessoas, entre os amigos, a relação do Estado com o cidadão... E, um pouco depois, a gente sai falando mal do Brasil, mas de uma forma muito tosca! Sai falando que esse país é uma merda! Que não presta! Que todo mundo só sabe fazer fofoca! Que ninguém respeita a lei, etc. e tal. Nossa !? Hoje eu posso me autocriticar um pouco...Já fiz isso e hoje não penso assim. A gente não falava belezas do Brasil lá fora ? A gente não cantava João Gilberto, Caetano, Gil e Chico para o "foreign" ? Não lembrava com saudade das nossas praias, das morenas, da natureza, das comidinhas, do nosso samba ? Da possibilidade de fazer um amigo na rua, no bar ou no futebol ? O coração não era só saudade ? E agora...falando mal do seu país ? Não é um comportamento um pouco esquizofrênico ? É...acredito que sim. O Brasil ainda tem coisas ótimas! Só não vê quem não quer. Mas se apresse e fique atento!, meu amigo, pois os conspurcadores e "cagadores de regras" não param de legislar contra o Brasil. Aquele Brasil do Pixinguinha já não existe mais. Bom...mas voltando...me emocionei com o filme. O Rodrigo Santoro faz o papel do galã, a Cláudia Abreu da cantora e amante, a Alessandra Negrini da esposa amorosa (e convence!) e o Selton Mello faz o papel do Selton Mello. Impagável. Que menino de ouro!

Abraços
Geraldo