Quando você não consegue viver sem ler e escrever...quando esse hábito vira rotina, sina, mania, roteiro do dia-a-dia, não se envergonhe; pelo contrário, se orgulhe: você também foi picado pela mosca azul da galhardia... da fantasia... da poesia...Mesmo que não dê em nada, você está exercitando o pensamento e, muitas vezes, o bom-humor, ingrediente essencial para a refeição mental e essencial do dia. Hoje, novamente, a melhor coisa que li no jornal foi a coluna do Marcelo Rubens Paiva, que está cada vez melhor. Querido Marcelo, se você ler esse desconhecido blog, me escreva para combinarmos um café (com açúcar do açucareiro tradicional). Segue:
ABERRAÇÕES DA HUMANIDADE
Marcelo Rubens Paiva - O Estado de S.Paulo
Sachê
Você sabe muito bem do que estou falando. Onde estão aqueles recipientes com mostarda e ketchup com que estávamos habituados, e aprendemos a espremer antes de escrever? E o saleiro, o açucareiro, a maionese no pratinho, com uma espátula apropriada? É mais raro encontrá-los do que guardanapos de linho. A Vigilância Sanitária, o lucro insano das corporações e o capitalismo selvagem nos obrigam a conviver com desagradáveis e minúsculos sacos plásticos não biodegradáveis que, dizem, contêm o condimento necessário para a nossa refeição. Como abrir? Com unhas? Dentes? Dentadas e unhadas? Imaginam que andamos com canivete suíço no bolso? Como abrir sem escorrer a metade do condimento? Como abrir sem espalhar pela mesa ou pelo colo ou, pior, espirrar no rosto do garçom, um saco que não fora planejado para ser aberto, mas para apenas armazenar uma porção que alguém arbitrariamente julgou a necessária. Bem, minhas fritas precisam de dezenas daqueles saquinhos. E tiveram a cara de pau de inventar sachê com azeite, vinagre e até shoyu. Queria que o inventor dessa barbaridade almoçasse numa cantina tradiça com a minha família italiana e tentasse temperar a salada, entre as polêmicas e discussões de sempre de domingo. Sem usar os dentes.
Você sabe muito bem do que estou falando. Onde estão aqueles recipientes com mostarda e ketchup com que estávamos habituados, e aprendemos a espremer antes de escrever? E o saleiro, o açucareiro, a maionese no pratinho, com uma espátula apropriada? É mais raro encontrá-los do que guardanapos de linho. A Vigilância Sanitária, o lucro insano das corporações e o capitalismo selvagem nos obrigam a conviver com desagradáveis e minúsculos sacos plásticos não biodegradáveis que, dizem, contêm o condimento necessário para a nossa refeição. Como abrir? Com unhas? Dentes? Dentadas e unhadas? Imaginam que andamos com canivete suíço no bolso? Como abrir sem escorrer a metade do condimento? Como abrir sem espalhar pela mesa ou pelo colo ou, pior, espirrar no rosto do garçom, um saco que não fora planejado para ser aberto, mas para apenas armazenar uma porção que alguém arbitrariamente julgou a necessária. Bem, minhas fritas precisam de dezenas daqueles saquinhos. E tiveram a cara de pau de inventar sachê com azeite, vinagre e até shoyu. Queria que o inventor dessa barbaridade almoçasse numa cantina tradiça com a minha família italiana e tentasse temperar a salada, entre as polêmicas e discussões de sempre de domingo. Sem usar os dentes.
Protocolo de Atendimento
Outra aberração da humanidade. Já tive quatro protocolos de
atendimento numa reclamação para o SAC de uma telefônica num telefonema de 30
minutos. Média: um protocolo a cada sete minutos e meio. No quarto, me perguntei
o que foi feito com o coitado do primeiro, perdido, esquecido solitário no
buraco negro que eles nomearam "sistema". E se precisamos de quatro, por que nos
soletram três antes. Nossa vingança é quando fingimos que anotamos o protocolo
de atendimento. "Senhor, por favor, anotar o protocolo de atendimento." Claro,
querida, pode falar, estou anotando no meu álbum de protocolos de atendimento,
que coleciono desde quando inventaram o protocolo de atendimento, meses depois
de inventarem o atendimento. E repetimos em voz alta um número infindável,
enquanto checamos e-mails, postagens nas redes sociais, confirmamos presença em
eventos em que não daremos as caras... Se tivessem a mesma eficiência nos
atendimentos que no exercício de dar protocolos de atendimento, o mundo seria
com bem menos protocolos. E os consumidores ligariam bem menos para o
atendimento.
Controle Remoto
Foi uma bela invenção. Que piorou a saúde da humanidade, aumentou o
sedentarismo e nos deixou mais atordoados. Invenção que, com o tempo e o avanço
tecnológico, piorou, como o relógio digital que está até em eletrodomésticos de
linha branca, piscando teimosamente no 00:00, já que não sabemos programá-lo.
Tá. Não bastam os botões de ligar, desligar, volume e canal. Existem dezenas
deles, com números que não são parte de uma calculadora e símbolos que não fazem
sentido, indicações e termos que só conseguem ser lidos com a ajuda de um
microscópio. O controle da minha TV, comprada no Brasil, tem as opções power,
source, ch, pre-ch, mute, ch.list, w.link, tools, return, info, exit, cc, mts,
p.mode, e.mode, p.size, fav/ch, números e flechas... E, claro, um enter que,
cuidado, se você apertar, a TV não funcionará por sete dias, até seu sobrinho
geek fazer uma visita. Como se não bastasse, precisamos de três deles, às vezes
mais, para assistir àquele filminho água com açúcar com a família. E sincronizar
operações, como abaixar o volume da TV, aumentar o do Blu-Ray e mudar para modo
HDTM3. Muitas vezes, quando acertamos e, milagre, o volume está OK e a legenda
sincronizada, parte da família ronca ao lado. Mais fácil pilotar um caça sueco.
Quer uma dica quando der pau? Uso aqui em casa: tira da tomada, conta até 15 e
coloca novamente. Geralmente dá certo.