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sexta-feira, 12 de junho de 2020

Quarentena

Comecei a escrever esse texto quando o Brasil havia atingido mais de 20 mil mortos pelo Covid-19. Agora, em meados de junho, já passamos de 40 mil. O vírus, que teve origem na China, varreu o planeta, colocou o mundo de ponta-cabeça e vai ceifando vidas... Muito triste. Um micro-organismo, invisível a olho nu, subverteu a ordem mundial, derrubou economias e impôs uma quarentena global. Isso dá o que pensar... Para mim, é inequívoco o recado espiritual das esferas superiores. Nós, habitantes desse planeta, precisamos evoluir, precisamos nos tornar pessoas melhores.

O vírus nos obrigou a uma quarentena forçada. Para quem quiser, dá até para escrever um diário de bordo. Não podemos sair de casa. Então, cada qual pode escrever seu diário como se estivesse a navegar em um oceano, cada qual em sua cabine, mas, no final, creio que estamos todos no mesmo barco, no mesmo navio. Houve quem fizesse outra metáfora, dizendo que estamos todos no mesmo oceano tempestuoso, mas navegando em distintas embarcações.

Em quarentena forçada desde 20/03/2020, ao longo das semanas, consegui perceber uma mudança de humor em mim e nas pessoas mais próximas. No começo foi uma alegria. Uma sensação de tirar um longo feriado e poder trabalhar sem sair de casa. É claro que havia, ao mesmo tempo, medo de contrair o vírus, mas a esperança dava o tom. Vimos isso também na Itália, quando as pessoas saiam na varanda para cantar. Depois, veio a preocupação real. Ficamos assustados com as notícias. Lavar as mãos 70 vezes por dia passou a ser normal (vamos todos desenvolver esse TOC?). Nunca sair sem o álcool em gel no bolso. Depois, com algumas semanas em quarentena, veio um sentimento de cansaço, exaustão. O desafio de pilotar o fogão, fazer a faxina e dar conta do "home office", principalmente dos prazos. E depois, com tantos dias, recluso, confesso que me senti exasperado, agoniado. A solução foi fazer coisas boas e/ou necessárias, como cozinhar, trabalhar, namorar por WhatsApp, meditar, fazer Pilates e ouvir palestras espíritas. E, pelo menos aqui, no Brasil, entre panelaços, feriados esquisitos (antecipados) fui me protegendo e ficando em casa, trabalhando quieto no meu barco. Uma inspiração foi reler "Cem dias entre céu e mar", de Amyr Klink, verdadeira odisseia dos tempos modernos. 

Assim como milhões de pessoas, eu também tive que me adaptar à quarentena forçada. Servidor público, ligado à área da Justiça, aprendi a trabalhar no modo "home office", ou teletrabalho. Reaprendi a cozinhar. Fiz pratos que eu não sabia que seria capaz, como abobrinha refogada, couve na manteiga, filé de frango acebolado, tilápia ao forno. Tive mais tempo para ler, refletir, falar com a namorada (que está nos EUA, mas a salvo, no Havaí), chorar a partida de minha mãe, que faleceu (não por Covid-19, mas por leucemia), passar pelo luto, bem como falar com os amigos e parentes.

Agora, dia 20 de junho, completarei 90 dias de confinamento. Só saio para ir ao supermercado e visitar meu pai. Fiquei mais espiritualizado. Ouvi muitas palestras espíritas pela internet, sobretudo de Divaldo Franco e Haroldo Dutra Dias. Participei das orações de um vizinho, do prédio em frente ao que moro, que todo dia puxa oração às 21h. Católico fervoroso, ele sempre fala algumas palavras ensaiadas sobre o Evangelho ou algum santo ou um pensamento de união e amor, e depois puxa um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. É muito bom!

Creio que essa pandemia tem vários significados. E creio que muita coisa vai mudar depois do coronavírus. O mundo não será como antes. Nações, governos, famílias, vizinhos, empresas, sistemas de saúde, sistemas de transporte, tudo terá que se readaptar ao mundo pós-covid-19. Espero que mude para melhor. O mundo ficará mais tecnológico. A ciência vai progredir mais rápido. O vírus vai acarretar uma aceleração do progresso moral da humanidade. Teremos que aprender o valor da solidariedade, da empatia, do amor ao próximo, da redução das desigualdades sociais. Governos deverão continuar com a ajuda financeira aos mais pobres, aos trabalhadores autônomos e informais e à desoneração tributária para pequenas e médias empresas. Um espécie de Plano Marshall para o século XXI.

O mais importante, contudo, talvez seja extrairmos um significado para tudo isso que está acontecendo. Perceber as mensagens da pandemia. Eu, cá do meu lado, imagino o espírito de Sócrates a nos dizer: - Antes de querer conhecer o mundo, "conhece-te a ti mesmo". Antes de querer dominar as coisas exteriores, primeiro conheça e domine as coisas da sua própria casa. Também é possível ouvir a seguinte mensagem: Cuide dos teus sentimentos. Eleve os teus pensamentos. Ore! Isso vai passar!