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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Mensagens

Mensagens por celular talvez seja uma das melhores e piores coisas já inventadas recentemente. Pode ser ótimo para algumas situações como: "Onde você está ?" E o outro: "Tô aqui na praça, em frente a estátua onde os pombos cagam na cabeça." E a outra responde: "Ahh.. tô na esquina, já tô indo pra aí." Pode ser ótimo para um desfecho de noite entre um casal: "Boa noite meu querido! Foi uma noite inesquecível! beijos! Te amo!"  Mas mensagens de texto dão margem a mal-entendidos. O cara quer falar X e a mulher entende Y. Ou vice-versa... Não tem o cara-a-cara, a linguagem corporal, a postura, a entonação... Acho que quanto menos escrever melhor. Ou, então, quanto + clara a mensagem melhor, quanto + assertivo melhor. Tipo: "Amor, agora não dá pra falá nem fudenu, tô numa corria doida, perdão! Falamu + tarde. Bj" Já ouvi muitos relatos de amigos que brigaram com as namoradas por mensagem de texto. Putz... Porque não liga porra ??? Pelo menos por telefone dá pra sentir a voz do outro, a emoção, a entonação... etc. Mas tem gente que solta os cachorros por mensagem e, depois, bloqueia a outra pessoa no telefone. Pode ? E quando o casal está apaixonado ? Aí esquece... é só besteira o tempo inteiro. "Liga no canal X: programa tal. bj" Ou então: "Minha colega de trabalho falou uma coisa hilária agora wwwww". Quer dizer... X... e o que isso representaria para o francês dos 1700 ? Ou para o tupinambá dos 1500 ? Ou para o inglês dos 1400 ? Ou para o grego de 200 AC ? Um absolutamente nada! Uma trivialidade. Menos que uma folha caindo de uma árvore. Mas as pessoas hoje em dia têm urgências!!! Querem ser correspondidas na mesma hora, no mesmo minuto! Ohh... não me respondeu de imediato... Tô magoado... Vivemos uma crise emocional coletiva de proporções bíblicas. O homem demorou milhões de anos para ser o que é hoje. Homo sapiens sapiens. O que representa uma progresso para a espécie, mas também não quer dizer nada... Um dia seremos extintos assim como os dinossauros. A evolução biológica, dos costumes, das tradições, das leis e recentemente da ciência (que é uma criança) foi sempre lenta e gradual. Mas de 30 anos para cá a humanidade experimenta uma revolução tecnológica nunca antes vista. E a maioria das pessoas ainda não se adaptou. Nem eu. Estamos nos adaptando, aos poucos. É muita informação e tecnologia para pouca inteligência emocional no dia-a-dia. Por que que tem que ter novidade todo dia? Toda hora? Você não consegue ficar sozinho um pouco com seus pensamentos e emoções? É muito chip para poucas gentilezas. É muita urgência para pouca paciência.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O vazio

Página em branco
Por escrever
Tela intacta
Pedra bruta
O tempo parado
Nada a acontecer

Estás num deserto
Horizonte vasto
Sozinho...
Silêncio...
Ninguém por perto

A casa vazia
O telefone mudo
Na rua deserta
Somente um cão vadio
E o eco do seu próprio pensamento...
O vazio... o vazio...
                         (Geraldo Meirelles)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ao leitor

         
          "Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito dez. Dez ? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Stern ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
          Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.
 
                                                                                                                              BRÁS CUBAS"
 
(Prólogo da obra "Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis)

Obs.: Foto tirada no bairro da Aclimação, em São Paulo. Notem que a placa grafa o nome Brás com Z e não com S, como o nosso personagem póstumo. Se alguém, porventura, souber a quem se refere esta placa de rua, agradeço.
 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Por entre cortinas...



Fevereiro de 2013
Um filho da classe média alta
Preso, acorrentado aos seus grilhões emocionais
Filho de mãe autoritária
E de um pai distante
Teve uma boa educação
Estudou nos melhores colégios
Mas ainda não tinha se defrontado com eles
Ou melhor...
Consigo mesmo
Naquele tempo
Esse velho moço só podia ver o mundo assim...
Por entre as cortinas
Sem participar da multidão

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Lugares comuns

SINOPSE: "A vida do professor universitário argentino Fernando Robles muda depois que ele é obrigado - por decreto - a se aposentar. Ao lado de sua mulher Liliana - com quem faz um casal apaixonado e dedicado - viaja para a Espanha para visitar o filho. Eles se amam, se respeitam e são fiéis um ao outro, e nunca se cansam de estar a sós, somente os dois. Na volta, assustados com o custo de vida de Buenos Aires, Fernando e Liliana procuram novam ocupações mudando-se para uma fazenda onde pensam em plantar lavanda."
 
Bueno...não vou estragar a surpresa, porque o filme vai e volta... Mas logo no começo do filme, quando o professor fica sabendo da sua aposentadoria compulsória por decreto, ele fica puto! Arromba a sala do Reitor e fala o que pensa! Sem meias peias... O diálogo entre o professor recém-aposentado compulsoriamente e o reitor burocrata que reza a cartilha do governo é impagável! Está claro que o pecado do professor é incendiar o alunos e ser um inclassificável. Tanto que o reitor fala: "Eu não sei como defini-lo. Não é peronista, não é radical, não é nada. O que posso dizer no informe: é anarquista, marxista, esquerdista ?" Ao que o professor responde: "Diga a eles o que não sou. Eu não sou um inepto, um corrupto, não fui nomeado a dedo como você."  
 
Bom... depois de esculachar o reitor com ironias finas e grossas, inclusive chamando-o de burro, o professor vai para a sua última aula na universidade; entra na classe, revisa seu material e diz para os alunos guardarem seus apontamentos sobre o livro "O Jogo da Amarelinha", de Júlio Cortázar, porque, naquele dia, a aula será diferente. Acende um cigarro. Uma aluna pergunta se é permitido fumar. Ele diz: "Hoje sim". E diz:
 
"No ano que vem, quase todos serão professores; não sabem muito de literatura, mas poderão ensinar. Não é isso o que me preocupa. Me interessa que coloquem na cabeça que ensinar significa "mostrar". "Mostrar" não é doutrinar. É dar informação, mas ensinando também a entender, analisar e questionar essa informação. Se entre vocês há idiotas o suficiente para ouvir revelações ou doutrinas políticas, então deverão falar num templo ou em praça pública. Se, por casualidade, seguem isto, deixem as superstições lá fora antes de entrar na aula. Não obriguem os estudantes a aprender coisas decorando. Isso não é bom. Aquilo que é imposto pela força é rejeitado e, logo depois, esquecido. Nenhum garoto será melhor porque sabe o aniversário de Cervantes. Persigam o objetivo de fazê-los pensar, duvidar, que façam perguntas entre si. Não os valorizem pelas suas respostas, elas não são a verdade. Procurem por uma verdade que seja sempre relativa. As melhores perguntas são as que se repetem desde os filósofos gregos. O que ? Como ? Onde ? Quando ? Por que ? Se a isso também juntamos que "a meta é o caminho", como resposta não serve! Descreve a tragédia da vida, mas não pode explicá-la. Há uma missão, ou um mandado, que quero que cumpram. Missão que ninguém encomendou, mas que vocês, como professores, devem impor a vocês mesmos. Despertem em seus alunos a dor da lucidez. Sem limites. Sem piedade."   
 

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O samurai e o monge

"Um guerreiro samurai, conta uma velha estória japonesa, certa vez desafiou um mestre Zen a explicar o conceito de céu e inferno. Mas o monge respondeu-lhe com desprezo:
- Não passas de um rústico... não vou desperdiçar meu tempo com gente da tua laia!
Atacado na própria honra, o samurai teve um acesso de fúria e, sacando a espada da bainha, berrou:
- Eu poderia te matar por tua impertinência.
- Isso - respondeu calmamente o monge - é o inferno.
Espantado por reconhecer como verdadeiro o que o mestre dizia acerca da cólera que o dominara, o samurai acalmou-se, embainhou a espada e fez uma mesura, agradecendo ao monge a revelação.
- E isso - disse o monge - é o céu." 

domingo, 31 de agosto de 2014

Menino chorando na noite

"Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora.

O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumor da gota de remédio caindo na colher.

Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.

E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça

e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando."
                                                                         (Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A vida real

A vida real é sempre mais difícil do que a vida sonhada, esperada, ansiada... A vida real é pé no chão, enquanto a outra é sonho, fantasia... e o que é pior, gera ansiedade. A vida real é hoje, agora, na sua mente, corpo, alma, ego. Epa! cuidado com esse... A vida real é família, trabalho, esforço, cotidiano, relacionamentos... enquanto a vida sonhada, romântica, é o que você gostaria que acontecesse... É um mar de rosas fabricado mentalmente... A vida real é o dia-a-dia, o oficial de justiça batendo na porta da tua casa, problemas pra resolver, doenças na família, discussões nos edifícios...   Mas também são aqueles momentos mágicos de prazer que passamos com as pessoas que amamos. É uma música que se ouve e se emociona... é aquela chama que te ilumina quando você aprende e entende algo então impensável... é uma conversa com um amigo do peito no butiquim... É aquele momento inesquecível que você passou com a pessoa que ama ou amou... Os românticos e sonhadores devem se proteger para não se machucarem muito perante a vida real, pois esta, muitas vezes, como toda vida real de um ser vivente, pode ser dura, fria, implacável; não fica jogando confetes nem nos agradando a maior parte do tempo; pelo contrário, na maior parte do tempo são silêncios, às vezes contas à pagar, às vezes uma pancada na cabeça, uma rasteira, uma falta de educação de quem quer que seja, um não de alguém que você convida pra sair, problemas no trabalho, um fora da namorada, pais que brigam, mortes na família, irmãos distantes emocionalmente, desencontros, decepções, frustrações, dores... Mas também, às vezes, alegrias, samba, risadas, boemia, conversas, um pôr-de-sol, descobertas, um livro que se descobre, encontros entre amigos, música, rituais, um novo amor... magia... E assim vai caminhando a vida... A vida real! Não a que gostaríamos que fosse como sonhamos, pois esta só existe no plano ideal, na idealização... nunca será atingida... É melhor, desde já, descartá-la... Isso não significa desistir dos seus sonhos. O que eu quero dizer é: ACEITE A VIDA REAL: as dores e as alegrias, MAS NÃO IDEALIZE! Se você deixar de idealizar já é um grande passo. Não idealize a mulher amada, o trabalho perfeito, o marido perfeito etc., porque senão, fatalmente, você vai se frustrar, porque tudo isso não existe; é fruto da sua mente! Mas quão difícil é, no meio da paixão, deixar de idealizar ?! Reconheço... Nascemos, vivemos e iremos morrer. Essa é a realidade! E a vida passa rápido! Portanto viva da melhor maneira que conseguir! E aceite a realidade como ela é! Mas uma das coisas mais difíceis da vida é aceitar a realidade...e prosseguir... Façamo-los!

sábado, 16 de agosto de 2014

Banquete das três jovens de Bagdá

"Eu tive notícia, ó rei venturoso, de que um morador da cidade de Bagdá era solteiro e exercia a profissão de carregador. Certo dia, estando parado no mercado, encostado ao seu cesto de carga, passou por ele uma mulher enrolada num manto de muselina com forro de seda, usando um lenço bordado a ouro; calçava botinas douradas presas com cordão esvoaçante e polainas de laços também esvoaçantes. Ela parou diante dele, puxou o véu, debaixo do qual apareceram olhos negros, franjas e pálpebras longas com cílios cuidadosamente alongados (...). A jovem disse, com palavras suaves e tom sedutor: "Pegue o seu cesto e me siga, carregador". Ao ouvir tais palavras, ele mal pôde se conter e, tomando o baú, acorreu e disse: "Que dia de felicidade! Que dia de ventura!", e seguiu atrás dela, que caminhou à sua frente até se deter diante de uma casa em cuja porta bateu. Apresentou-se então um velho cristão a quem ela deu um dinar, dele recebendo um jarro verde-oliva de vinho. (...) Parou na loja de um verdureiro, do qual comprou maçã verde, marmelo turco, pêssego de Hebron, maçã moscatel, jasmim alepino, nenúfar damasceno, pepino pequeno e fino, limão de viagem, laranja real, mirta, manjericão, alfena, camomila, goivo, açucena, lírio, papoula, crisântemo, matricária, narciso e flor de romãzeira. Colocou tudo na cesta do carregador, que continuou a segui-la." A jovem foi ao açougueiro e comprou dez arráteis de boa carne de carneiro e carvão. Foram ao quitandeiro e a jovem comprou "um conjunto completo de condimentos que continha aperitivos defumados, azeitona curtida, azeitona descaroçada, estragão, coalhada seca, queijo sírio e picles adocicado. Saindo do quitandeiro, a jovem foi até o vendedor de frutas secas e comprou pistache descascado para usar como aperitivo, passas alepinas, amêndoas descascadas, cana-de-açúcar iraquiana, figos prensados de Baalbeck, avelãs descascadas e grão-de-bico assado. (...) "depositando-os na cesta do carregador, para quem se voltou dizendo: "Pegue a sua cesta e me siga", e ele levantou a cesta e caminhou atrás da jovem, até que ela se deteve diante do doceiro, de quem comprou uma bandeja cheia com tudo o que ele tinha: doces e pães ao modo armênio e cairota, pastéis almiscarados com recheio doce, bolos e confeitos como mãe-de-salih, doce turco, bocados-para-roer, geleia de sésamo, bolos-de-Alma'num, pentes-de-âmbar, dedos-de-alfenim, pão-das-viúvas, bolinhos de chuva, bocaditos-do-juiz, coma-e-agradeça, tubinhos-dos-elegantes e quiosquezinhos-da-paixão. Ajeitou todas essas espécies de guloseima na bandeja e colocou-a no cesto. O carregador lhe disse: "Ai, minha senhora, se você tivesse me avisado eu traria comigo um pangaré ou camelo para carregar comigo toda essa compra", e ela sorriu. Avançando um pouco mais, deteve-se diante do droguista e comprou dez frascos de essência de açafrão, igual quantidade de essência de nenúfar e duas medidas de açúcar; também pegou extrato de água de rosa perfumada, almíscar, noz-moscada, incenso, pedras de âmbar, castiçais para vela e outro tanto de archotes; enfiou tudo no cesto, virou-se para o rapaz e disse: "Erga o cesto e me siga carregador", e ele ergueu. A moça caminhou à sua frente até chegar a uma casa elegante dotada de um vestíbulo espaçoso, construção elevada, alicerces firmes, porta composta de duas lâminas de marfim cravejado de ouro cintilante. A moça se deteve diante da porta e bateu com delicadeza.
E a aurora alcançou Sahrazad, que parou de falar."
 
(28ª noite das 1001 noites - Volume I - ramo sírio; traduzido diretamente do árabe por Mamede Mustafa Jarouche; Biblioteca Azul)
 
 
 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Preciso me encontrar




Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
                           (Candeia)

domingo, 3 de agosto de 2014

A vida só tem sentido se for compartilhada...

A alegria genuína é difícil de aparecer, dar as caras, surgir, mas ela existe! Nem que que seja por um dia, algumas horas, alguns minutos... ou segundos... O que é a felicidade ? São momentos... Ninguém é feliz o tempo inteiro... nem triste, nem romântico, nem cético... Aliás, que tédio seria, não!? A vida é muito mais que isso, meu amigo... E é preciso encontrar-se consigo mesmo, sentir-se, sentir os pés no chão, os 5 sentidos, estar bem só... para poder desfrutar do que existe e poder compartilhar com os outros... A vida só tem sentido se for compartilhada... Senão, é pura quimera de um sonho egoísta... Dia 9 de agosto, os "Inimigos do Batente" completarão 10 anos de existência, amor, samba, alegria, generosidade, simpatia, cumplicidade e magia... E, lógico, a comemoração será no já mítico "Ó do Borogodó": Fernando, Paulinho, Railídia, Cebola, Helinho e Cia Ltda. Tudo muito simples e natural. Depois de ver pontos histórico-afetivos da nossa querida cidade de São Paulo desfalecer, desmoronar, ruir, implodir ante a fome da especulação imobiliária... falo de tantos cinemas de rua que já fecharam as portas... do bar do Cidão, do centro de convivência do Antônio Nóbrega etc... E, invariavelmente, é sempre para dar lugar a um prédio comercial ou residencial insonso, incolor, inodoro e insípido... "Você praça, acho graça! Você prédio, acho tédio". E é bom e necessário resistir... Ando nas ruas e leio os grafites:"Mais amor por favor". Estamos precisando... de menos cimento e de mais afeto... menos shoppings e mais espaços abertos... menos hipocrisia e mais verdade... menos encontros virtuais e mais reais... menos exclusivismo e mais democracia... E o samba... pois é... o samba ainda insiste, e resiste.

sábado, 26 de julho de 2014

Inverno

O que não está pronto não deve ser publicado. O que é estar pronto ? Qual escrito não está pronto ? Sim... há um tempo de reflexão, amadurecimento, na escrita, no amor, na vida... Deixar o pensamento e as emoções fluirem... Pisar em chão firme. Olhar pra dentro. Encarar a realidade. Desmascarar o ego. Não se deixar levar pela tentação, pelo desejo imediato de se ver publicado, bendito ou amaldiçoado. A maioria das pessoas quer aplausos, beijos e abraços, nem que sejam falsos... Oh... É preciso segurar isso. É preciso se doar sem esperar recompensa. É preciso, às vezes, um retiro espiritual. É preciso procurar nossa essência... Ficar quietinho. Voltar-se à Deus... Esperar... E ver como as coisas soam e ressoam... E esperar esse ressoar... Com calma, com sabedoria. Para depois continuar...

domingo, 15 de junho de 2014

Etimologia

O significado etimológico das palavras eu busco:
Origem
No espaço sideral as estrelas estão traçadas:
Destino
O grão de areia na palma da minha mão:
Domínio
Os grãos de areia que escorrem pela ampulheta:
O Tempo
A árvore do tempo defronte à casa da família Veloso contém uma sabedoria milenar...
Ela tem vida
A vida vegetal contém mistérios que a vida animal nem sonharia
É calma e serena
Tem sentimentos
No mapa geográfico do Brasil eu vejo o número quatro: a totalidade. Depois eu vejo o número três: Terra abençoada por Deus, de infinitas possibilidades. Depois eu vejo o número 2, dois pontos anunciando o que virá a seguir. Eu vejo. Sim, eu vejo. Eu vejo a União.
Um casal de namorados
O homem e a mulher
Eu os vejo caminhando de mãos dadas
Concebendo um nova vida
O equilíbrio
O mundo não existiria se nós não o quiséssemos
A humanidade é uma força viva
Força bruta
A construção do amanhã
Eu vejo o um
Um menino correndo
O pai de todos
O pai-nosso
O pai de toda cor
O pai herói
Eu vejo e sinto
A Era de Aquário
O resgate de Chico Buarque de Holanda
Paratodos
E num ápice de segundo meu irmão volta de viagem
De São Tomé das Letras
Nada é por acaso
E no entanto, não devemos entender
Mas compreender, que fazemos parte do Um
                                                          (escrito em 1992)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

BRASIL x URSS (1982)

Me lembro como se fosse ontem. Era 1982. Eu era criança e tinha 11 anos de idade. Um menino de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, que gostava de jogar bola. A bola, pois é... que brinquedo mágico para um menino, capaz de ficar brincando com ela a manhã inteira e não cansar, conversar com ela, estabelecer uma relação tão íntima como se fosse uma namorada. Que coisa... mas disso eu não tinha consciência na época. Eu simplesmente amava a bola. Queria ficar com ela. Freud explica? Do que eu gostava era da bola, da piscina, de jogar tênis e de nossa cadelinha cockiee spanniol, que se chamava "Biba". Por ser criança nessa época, não é difícil vocês acreditarem que meu time do coração era e é, até hoje, o Flamengo, composto por: Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes, Lico. Que coisa... E a primeira Copa do Mundo de que tive consciência foi essa, de 1982. Lembro-me de que a escola dispensou os alunos mais cedo naquela tarde e os alunos, numa algazarra, foram embora mais cedo para casa. Que alegria! Não sabíamos o que era aquilo. Era a primeira vez... como tantas experiências nessa vida. Cheguei em casa e fui para a saleta de televisão. Sabia que o jogo seria Brasil x URSS. Lembrem-se que o Muro de Berlim ainda não havia caído e que a URSS ainda tinha um vasto domínio material e ideológico por pelo menos 30% do planeta. Também disso eu não tinha consciência. Mas me falaram que era um "bicho papão". E era, no campo futebolístico. O Brasil, com um timaço: Valdir Perez, Luizinho, Oscar, Leandro, Júnior, Sócrates, Falcão, Dirceu (Paulo Izidoro), Zico, Serginho e Éder. E a URSS com a fama de ser um time implacável, com um futebol... como era mesmo... ahh é ... um futebol científico. Quem nunca viu o VT desse jogo deve ver. Assistam o que aconteceu. O Brasil saiu perdendo no final do primeiro tempo no que eu achei e acho até hoje um frangaço do Valdir Perez, que ficou marcado por esse frango pro resto da vida. Mas eu ainda tinha esperança... E um menino sempre tem esperança...

sábado, 31 de maio de 2014

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
                                                     (Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Fernando de Noronha

Fui a Fernando de Noronha e aprendi a olhar para dentro de mim. E lá terminei de ler o livro "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. Na verdade, eu havia acabado de terminar o namoro com uma ex-namorada. Ou melhor, ela havia acabado de terminar comigo. Fiquei num estado lastimável e não aproveitei a viagem. Para piorar a situação, bati o buggy que havia alugado. O acidente foi uma distração que causou danos e prejuízos materiais. Tive sorte por nada de mais grave ter acontecido comigo, fora um hematoma no joelho. Lembro-me que, no momento da colisão, meus óculos saltaram para fora do buggy e ficaram na estrada. Que cena... De que adianta usar óculos e tanta ansiedade para ver o mundo se você não se conhece? Não controla suas emoções? Pra quê tanta pressa em "aproveitar a vida" se você não consegue sorvê-la, como um vinho, com calma, saboreando, usando os cinco sentidos? Ou os seis, no caso das mulheres. Essas eu respeito. Os homens são imaturos, quase todos, mesmo os velhos... E "os bares estão repletos de homens vazios" (Vinícius de Moraes). Achei que ia mergulhar no oceano, mas mergulhei em mim mesmo, e me espantei...Vi o ser carente que sou, carente de afeto e de amor. Vi o ser impulsivo e desatento com as coisas... e tomei uma lição! Calma. É preciso sempre ter muita calma, clareza e coragem para ver o que há de errado dentro de nós. Não adianta nada agir perante a impulsividade. Precisamos reconhecer o impulso, "a emergência", antes que ela faça estragos... Conheci uma mulher que mudou o rumo da minha direção. É sempre uma mulher... E essa valia a pena! Valia a pena lutar! Valia a pena esperar para ver o que iria acontecer se eu não fosse tão imaturo e egoísta e ela orgulhosa e cabeça dura. Não foi. Aliás, foi. Foi bom e ruim. Deixou marcas, mas passou. Uma das coisas mais difíceis que existe é aceitar a realidade, o que a vida e o destino às vezes mandam. E sem aquele pensamento de que somos vítimas, pois sempre temos algum controle sobre nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Na verdade, todo mundo quer amar e ser amado. Mas tudo demanda iniciação, treino, paciência, calma, atenção, cuidado e tempo... Eu era cego e não via. Hoje, tiro os óculos e vejo melhor... Porque um míope tem que usar óculos quando, na verdade, o essencial é olhar para dentro de si mesmo? Como diria Antoine de Saint-Exupéry, "o essencial é invisível para os olhos, só se exerga bem com o coração".

quinta-feira, 27 de março de 2014

A poesia não espera, surge

A poesia não espera
Ela chama, reclama
Ela até dorme...e muito...
Mas quando acorda
Ela te chama...
Te desperta, agora!

Vai poeta! vai sentimentos
Cruzando os caminhos
Tateando os movimentos
Eu sei que ela surge...
Assim...do nada!
Na clara noite escura
Ela invade
Os meus pensamentos...

sexta-feira, 21 de março de 2014

Eu e as flores

Quando eu passo
Perto das flores
Quase que elas dizem assim:
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim
A nossa vida é tão curta
Estamos nesse mundo de passagem
Ó meu grande Deus, nosso criador
A minha vida pertence ao senhor
                         (Nelson Cavaquinho c/ Jair do Cavaquinho)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Conjunto Nacional

Não sei por que gosto tanto do Conjunto Nacional, na Av. Paulista, SP, Capital. Simplesmente gosto. E olha que o freqüento desde o antigo Cine Astor, onde assisti a tantos filmes durante a adolescência. Uma das explicações ouvi outro dia, do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Ele disse que é um espaço democrático, onde a vida urbana flui, criado pelo arquiteto David Libeskind. É um espaço onde todas as classes sociais podem conviver e interagir. Um quarteirão inteiro. Prédios comerciais e residenciais. E em embaixo, há um espaço de convivência coletiva. Tem cinema, café, restaurante, livraria, lojas, farmácia etc. E esse espaço de baixo é vazado. Dá para circular livremente e sair em qualquer calçada nos quatro pontos cardiais. Magnífico! Realmente, é um dos exemplos mais bem acabados de generosidade urbana! Na última semana, fui lá e vi uma exposição sobre a Caligrafia Árabe. Que coisa linda! Fiquei encantado...
 

domingo, 2 de março de 2014

Guignard

 
 
 
Em minhas andanças por Ouro Preto/MG, me deparei com a figura de Guignard. Lá tem um museu dedicado ao pintor. O museu tá pertinho da Praça Tiradentes. Era o último dia...Eu estava triste por ter que ir embora, e já sentia saudades antes mesmo de ter partido...Ouro Preto é uma cidade que cativa a gente. Certa vez vi um filme que tinha a seguinte frase: "A paisagem cura." É o caso de Ouro Preto. Para qualquer lado que você vire e veja, tem beleza, tem poesia, tem alma, tem corpo...E rende uma fotografia. Fiquei hospedado no Pouso do Chico Rey. E depois de 5 dias andando ladeiras acima e ladeiras abaixo, descobrindo minas de ouro, igrejas, o barroco, aleijadinho, comendo aquela comida mineira tão gostosa (um tutuzinho de feijão, covinha mineira, bisteca, torresmo e um quiabo que eu nunca vi igual em toda a minha vida), me deparei com a figura de Guignard. Entrei no pequeno museu. As imagens enebriavam mais do que a música que tocava...Era pura poesia! E me surpreendi com a história da paixão de Guignard por Amalita Fontenelle. Bom, a história é a seguinte: Guignard era um homem comum, suscetível a paixões e medos. Aos 36 anos, conheceu, durante um concerto no Theatro Municipal, a estudante de música Amalita Fontenelle, onze anos mais jovem. Apaixonou-se. Durante os cinco anos seguintes, de 1932 a 1937, passou a produzir cartões dedicados à moça. Com um detalhe: nunca foram enviados.

Ohh...céus...nunca foram enviados... Paixão silenciosa ? Timidez ? Medo de ser rejeitado ? Talvez jamais saberemos. Mas não importa mais...Porque ambos já morreram e não puderam concretizar esse amor. Ela, a Amalita, nunca soube que era tão amada e desejada por esse pintor de alma sensível e dedicada. Isso me abateu. Me deu uma tristeza tão grande...tão triste...que chorei. Saí do museu com a alma dilacerada, porque vi em mim, no menino que eu era na infância, e nas paixões platônicas que tive, amores não declarados (e vividos) e concretizados.  
  
 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Provocações...

"A essência do meu progresso foi aceitar minha decadência."
                                                                          (Antonio Abujamra)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O ofício do ator

Vi uma entrevista do grande ator Tony Ramos no Canal Brasil e o que ele disse é mais ou menos isso:
 
Eu procuro o mistério nos diálogos, e nas pausas... e nos silêncios...E não se pode confundir humildade com subserviência. O trabalho é sempre maior do que o ator, que deve se entregar a ele. É preciso sentir prazer no que se faz; portanto, se não há prazer e entrega, simplesmente não faça! E não pense que tem gente que "tira de letra". Quem "tira de letra" é mata-borrão. O que é preciso para ser ator é ter vocação. E a vocação se descobre aos poucos...
 
Para quem tiver dúvida da vocação desse grande ator chamado Tony Ramos, assista ao trecho da novela que ele integrou quando mais jovem. Tony Ramos nu. O personagem de Tony Ramos despindo-se de todo o luxo e conforto que a posição de seu pai lhe proporcionava. Pois à essa altura, a roupa que lhe tinham dado para vestir, não lhe cabia mais. O resto é conversa...
 
 
O resto é conversa...
 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Rua dos Cataventos




E não é que até a Avenida 23 de maio tem poesia...
Se se saber olhar
Semear, colher, deixar escorrer, filtrar...
Na caminhada do dia-a-dia...

"Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!...E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos de luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar ? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto...iriso-me...estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!"
                                             (Mário Quintana)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

RECADO

"Não reclame da vida!
Procure não reclamar.
Sorria!
E tente viver feliz com as pessoas e as coisas à sua volta.
Sorria para não envelhecer rápido demais."
          (Recado de um velho transeunte, desdentado, da Praça da Sé)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Hannah e suas irmãs

Não é possível, num único texto, falar tudo sobre Woody Allen. Nem em um livro seria possível... Possível são apenas algumas considerações, transcrições e comentários...e é só. Depois de já ter assistido mais de 7 filmes do mestre, cuja alma considero mais européia do que norte-americana, digo que os filmes de Woody Allen apenas confirmam que somo meros atores e atrizes num palco chamado mundo, e a direção do filme não está em nossas mãos, mas nas mãos do Grande Diretor desse espetáculo mundano...E é Ele, afinal, que nos dá vida e nos deixa mover pra lá e pra cá...às vezes como baratas tontas, à procura de algo...sempre a procura de algo...talvez à procura de quem nós somos...talvez à procura de quem não somos... Oh...a necessidade humana...o desejo, a alegria, a tristeza, o medo, a culpa cristã, a vontade...não sei de quê...E no belo filme "Hannah e suas irmãs", Allen nos dá mais um mosaico das relações humanas encontradas e desencontradas...O tema das três irmãs é universal e manjado e já foi vertido para o teatro há séculos atrás por Tchecov...Mas Allen atualizou...com competência. Além de tudo, de todos os altos e baixos que há nas relações entre marido e mulher, amigos, irmãs, irmãos, e pais e filhos, Allen, no meio do filme, consegue colocar um texto crítico primoroso em face da sociedade contemporânea. Lá pelas tantas, enquanto uma irmã de Hannah volta para casa depois de transar com o cunhado, o marido traído, interpretado pelo já mitológico ator Max Von Sydow, fala:
 
"- Perdeu um programa de TV sobre Auschwitz. Mais imagens chocantes. E mais intelectuais perplexos declarando sua mistificação sobre a morte de milhões. Nunca responderão à pergunta: 'Como pôde ter acontecido ?' Porque é a pergunta errada. Deviam perguntar: "Porque não acontece com mais frequência ?". Acontece, só que sutilmente.
(...)
Fazia tempo que não me sentava em frente à TV, mudando de canal para achar algo. Você vê toda a cultura: nazistas, vendedores de desodorante, lutadores, concursos de beleza, programas de entrevistas. Imagine o nível intelectual de quem assiste luta livre. Mas o pior são os pastores. Trapaceiros que mentem aos pobres telespectadores dizendo que falam com Jesus. E pedem dinheiro! Se Jesus voltasse e vissem o que fazem usando o nome dele não pararia de vomitar."
 
Aqui entre nós, o bom do Woody Allen é que ele externaliza os pensamentos dos personagens. Senão de todos, dos principais...revelando a vida psíquica de cada qual. Isso é muito rico! Nos faz parecer normais, humanos, mesmo com os pensamentos mais absurdos que possamos ter... E, no final dos anos 70 e começo dos anos 80, isso era novo no cinema, pelo menos dessa forma. E, ainda hoje, é muito revelador da natureza humana.  
 
 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Recursos ordinários e extraordinários

Um sujeito praticou um crime em 2006.  Fato banal, corriqueiro, diuturno, habitual, cotidiano...Centenas de crimes são praticados por dia no Brasil. (Pode ser um crime de tráfico de drogas, moeda falsa, apropriação indébita previdenciária etc.). Até aí nada de mais. O que tem de mais é o extenso e quase infindável leque de recursos que existe no ordenamento jurídico brasileiro. Nosso sujeito hipotético foi processado, julgado e, ao final de muitos anos, condenado. O processo foi regido pelo contraditório e pela ampla defesa. Como em todo Estado Democrático de Direito, o réu contou com a defesa de um advogado e um julgamento justo, pautado na lei previamente conhecida. Inconformado com a condenação, ele interpôs recurso de apelação. O Tribunal, julgando seu recurso, confirmou a sentença condenatória proferida em primeiro grau de jurisdição. Detalhe: a turma recursal de um dos Tribunais Regionais Federais do Brasil é composta por 4 desembargadores e, no caso, a decisão foi unânime. Ainda inconformado, o réu interpôs recurso especial (dirigido ao STJ). O recurso não foi admitido pelo TRF. Inconformado com a não admissão do recurso especial, o réu interpôs agravo de instrumento que, ao final, não foi conhecido pelo STJ por ausência dos requisitos legais. Por não interpor mais recurso (até caberia), aquela longínqua decisão proferida em primeiro grau de jurisdição e confirmada pelo TRF finalmente transitou em julgado no ano de 2009. O chamado trânsito em julgado coloca uma "pá de cal" em cima da questão, como se ela estivesse morta e enterrada. Bom...isso em princípio. No Direito sempre há exceções e brechas... E corpos de pessoas mortas são exumados, não são ? Pois é...nosso sujeito hipotético, depois de alguns anos, vem, por meio de uma simples carta (escrita de próprio punho) endereçada ao Vice-Presidente do TRF, requerer revisão criminal e a nomeação de um defensor público. Desse modo, o sujeito, por meio da Defensoria, requer a rescisão do julgado alegando que a sentença condenatória foi contrária ao texto expresso da lei ou à evidência dos autos (isso até pode ocorrer, mas não é comum). Os autos são endereçados ao MPF que redige um parecer opinando pela improcedência do pedido revisional. Um ano depois, finalmente, provocado a se manifestar, o TRF decide, por unanimidade, julgar improcedente a revisão criminal. Ufa...Opa, pensa que acabou ? Não...Irresignado com a decisão da Turma recursal, o nosso sujeito, por intermédio da Defensoria, interpõe novo recurso especial, agora contra o venerando acórdão que julgou improcedente a revisão criminal. Este recurso ainda está pendente de julgamento...
 
Vamos mudar esse estado de coisas ? Vamos mudar o sistema recursal ? Pera aí, diria um advogado, a questão é muito mais complexa do que se imagina...

 
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

São Paulo: 460 anos


São Paulo: cidade que acolhe e, ao mesmo tempo, devora...
Cidade de muito trabalho e pouco tempo.
Local que a todos lapida e esfola...
A capital da solidão, do trabalho, dos bondes, da multidão.
Para onde convergiram os de dentro e os de fora.

São Paulo: de arraial de sertanistas a burgo de estudantes (1554-1828),
demorou quase 300 anos...
Mas depois, de burgo de estudantes à metrópole foi um pulo.
Quem diria ?
Pulo não, salto. Inédito na história do mundo.
São Paulo: cidade que assusta tanto os interioranos,
quanto os migrantes ou imigrantes.
E onde passamos a maior parte dos nossos queridos anos...

Índios, caboclos, mulatos, cafuzos, mamelucos, portugueses...
De 1554 a 1828 foi mais ou menos do mesmo.
Segundo Ernani da Silva Bruno: um arraial de sertanistas.
Provinciana, pequena, esquecida até...
Fez parte da Capitania de São Vicente.
Mas depois de 1870 ? Hum...Não mais parou...
Parece até que (como dizia minha avó) caçoou da gente.

São Paulo: cidade que desperta amor e ódio.
Cidade do futuro, do trabalho, das oportunidades...
Hã...Para alguns trabalhos duros, para outros, moles.
Quando o capital entrou na Capital, esta não conseguiu mais parar...
Época em que as ferrovias transportavam a riqueza dos cafezais.
No começo vieram portugueses e italianos, principalmente.
Depois vieram alemães, armênios, judeus, japoneses, árabes
e toda sorte de estrangeiros que quiseram aqui aportar.

Mas de sua história e de sua alma, ainda falta muito descobrir e revelar.
Muita tenacidade, orgulho, trabalho, preconceito e violência.
Que a Antropologia ainda há de descobrir...de decifrar...
Terra de onde partiram bandeirantes para o oeste, para o sertão, para Goiás...
Terra onde aqui chegaram levas e levas de imigrantes para a América ganhar...

São Paulo: cidade que acolhe e, ao mesmo tempo, devora...
Cidade de muito trabalho e pouco tempo.
Local que a todos lapida e esfola...
A capital da solidão, do trabalho, dos carros, da multidão.
Para onde convergiram os de dentro e os de fora.
                                                       (Geraldo Meirelles)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

OIT e OXFAM: o desemprego e a desigualdade social aumentaram no mundo.

Saiu no jornal hoje uma matéria muito preocupante no caderno de Economia. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a entidade Oxfam (Comitê de Oxford de Combate à Fome) divulgaram dados que revelam as consequências da crise financeira de 2008. Para a OIT e a Oxfam, a crise mundial gerou uma concentração de renda inédita no planeta nos últimos 70 anos e fez o número de desempregados bater recorde. Segundo a pesquisa, a crise financeira de 2008 expulsou do mercado de trabalho 62 milhões de pessoas no mundo e, hoje, 202 milhões de pessoas estão desempregadas, o que equivale à população brasileira. Os mais afetados estão na Ásia e Europa. Mais ainda, a pesquisa da OIT revelou que, 5 anos após a crise financeira de 2008, a desigualdade social no mundo também aumentou de forma significativa. Os ricos estão mais ricos, os pobres mais pobres e as classes médias tiveram sua renda e seu patrimônio corroídos. Para se ter um idéia, 1% da população detém 50% do PIB do mundo. Cerca de 10% da população mundial controla 86% dos ativos do planeta. Nos EUA, 95% do crescimento gerado após a crise de 2008 ficou nas mãos de 1% da população. As dez pessoas mais ricas da Europa mantêm fortunas equivalentes a todos os pacotes de resgate aos países da região entre 2008 e 2010, isto é, cerca de 200 bilhões de euros. Segundo Winnie Byanyima, diretora da Oxfam, "a concentração de renda aconteceu por um processo em que a elite levou o processo político a desenhar regras no sistema econômico que a favorecessem."  
Nesse contexto, o Brasil é um oásis no meio desse deserto. Muito resumidamente, graças aos últimos 19 anos pudemos controlar a inflação, crescer, distribuir renda e diminuir drasticamente o desemprego. Todavia, já é certo que a forte desaceleração da economia brasileira que estamos experimentando afetará a criação de novos postos de trabalho nos próximos anos, afora outros problemas...

sábado, 11 de janeiro de 2014

Soneto póstumo

Ano passado descobri Mário Quintana...Aos 42 anos...



- Boa tarde... - Boa tarde! E a doce amiga
E eu, de novo, lado a lado vamos!
Mas há um não sei quê, que nos intriga:
Parece que um ao outro procuramos...

E, por piedade ou gratidão, tentamos
Representar de novo a história antiga.
Mas vem-me a idéia...nem sei como a diga...
Que fomos outros que nos encontramos!

Não há remédio: é separar-nos, pois.
E as nossas mãos amigas se estenderam:
- Até breve! - Até breve! - E, com espanto

Ficamos a pensar nos outros dois.
Aqueles dois que há tanto já morreram...
E que, um dia, se quiseram tanto!
                                              (Mário Quintana)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

As doze tarefas

"... E naquela manhã, Deus compareceu ante suas doze crianças e em cada uma delas plantou a semente da vida humana. Uma por uma, cada criança deu um passo à frente para receber o dom que lhe cabia.
 
1) "Para ti, Áries, dou a primeira semente, para que tenhas a honra de plantá-la. Para cada semente que plantares, mais outro milhão de sementes se multiplicará em tuas mãos. Não terás tempo de ver a semente crescer, pois tudo o que plantares criará cada vez mais e mais para ser plantado. Tu serás o primeiro a penetrar o solo da mente humana levando Minha Idéia. Mas não cabe a ti alimentar e cuidar dessa idéia, nem questioná-la. Tua vida é ação, e a única ação que te atribuo é a de dar o passo inicial para tornar os homens conscientes da Minha Criação. Por esse trabalho, Eu te concedo a virtude do Respeito por Ti mesmo."
Silenciosamente, Áries retornou ao seu lugar.
 
2) "Touro: A ti Eu dou o poder de transformar a semente em substância. Grande é a tua tarefa, e requer paciência; pois tens de terminar tudo o que foi começado, para que as sementes não sejam dispersas pelo vento. Não deves, assim, questionar; também não deves mudar de idéia no meio do caminho, nem depender dos outros para a execução do que te peço. Para isso, Eu te concedo o dom da Força. Trata de usá-la sabiamente."
E Touro voltou para seu lugar.
 
3) "A ti, Gêmeos, Eu dou as perguntas sem respostas, para que possas levar a todos um entendimento daquilo que o homem vê ao seu redor. Tu nunca saberás por que os homens falam ou escutam, mas em tua busca pela resposta encontrarás o Meu dom, reservado para ti: o Conhecimento."
E Gêmeos voltou ao seu lugar.
 
4) A ti, Câncer, atribuo a tarefa de ensinar aos homens a emoção. Minha Idéia é que provoques neles risos e lágrimas, de modo que tudo o que eles vejam e sintam desenvolva uma plenitude desde dentro. Para isso, Eu te dou o dom da Família, para que tua plenitude possa multiplicar-se."
E Câncer voltou ao seu lugar.
 
5) "A ti, Leo, atribuo a tarefa de exibir ao mundo Minha Criação em todo o seu esplendor. Mas deves ter cuidado com o orgulho, e sempre lembrar que é Minha Criação, e não tua. Se o esqueceres, serás desprezado pelos homens. Há muita alegria em teu trabalho; basta fazê-lo bem. Para isso, Eu te concedo o dom da Honra."
E Leo voltou ao seu lugar.
 
6) "A ti, Virgo, peço que empreendas um exame de tudo o que os homens fizeram com Minha Criação. Terás que observar com perspicácia os caminhos que percorrem, e lembrá-los de seus erros, de modo que através de ti Minha Criação possa ser aperfeiçoada. Para que assim o faça, Eu te concedo o dom da Pureza de Pensamento."
E Virgo retornou ao seu lugar.
 
7) "A ti, Libra, dou a missão de servir, para que o homem esteja ciente dos seus deveres para com os outros; para que ele possa aprender a cooperação, assim como a habilidade de refletir o outro lado das suas ações. Hei de levar-te aonde quer que haja discórdia, e por teus esforços te concedo o dom do Amor."
E Libra voltou ao seu lugar.
 
8) "A ti, Scorpio, darei uma tarefa muito difícil. Terás a habilidade de conhecer a mente dos homens, mas não te darei a permissão de falar sobre o que aprenderes. Muitas vezes te sentirás ferido por aquilo que vês, e em tua dor te voltarás contra Mim, esquecendo que não sou Eu, mas a perversão da Minha Idéia que te faz sofrer. Verás tanto e tanto do ser humano, que chegarás a conhecer o homem enquanto animal, e lutarás tanto com os instintos animais em ti mesmo, que perderás o teu caminho; mas quando finalmente voltares a mim, Scorpio, terei para ti o dom supremo da Finalidade."
E Scorpio retornou ao seu lugar.
 
9) "Sagitário, a ti Eu peço que faças os homens rirem, pois entre as suas distorções da Minha Idéia eles se tornam amargos. Através do riso, darás ao homem a esperança, e através da esperança voltarás os seus olhos novamente para Mim. Chegarás a ter muitas vidas, ainda que só por um momento; e em cada vida que atingires conhecerás a inquietação. A ti, Sagitário, darei o dom da infinita Abundância, para que te possas expandir o bastante até atingir cada recanto onde haja escuridão, e levar até ele a luz."
E Sagitário voltou para o seu lugar.
 
10) "De ti, Capricórnio, quero suor da tua fronte, para que possas ensinar aos homens o trabalho. Não é fácil a tua tarefa, pois sentirás todo o labor dos homens cair sobre os teus ombros; mas, pelo jugo da tua carga, ponho em tuas mãos a Responsabilidade sobre o homem."
E Capricórnio retornou ao seu lugar.
 
11) "A ti, Aquarius, dou-te  o conceito de futuro, para que atráves de ti o homem possa ver outras possibilidades. Terás a dor da solidão, pois não te permito personalizar o Meu amor. Mas, para que possas voltar os olhares humanos em direção a novas possibilidades, eu te concedo o dom da Liberdade, de modo que livre possas continuar a servir a humanidade onde quer que ela necessite de ti."
E Aquarius voltou ao seu lugar.
 
12) "A ti, Pisces, dou a mais difícil tarefa de todas. Peço-te  que reúnas todas as tristezas dos homens e as tragas de volta para Mim. Tuas lágrimas serão, no fundo, Minhas lágrimas. A tristeza e os padecimentos que terás de absorver são o efeito das distorções impostas pelo homem à Minha Idéia, mas a ti cabe levar até ele a compaixão, para que ele possa tentar de novo. Por essa tarefa supremamente difícil, Eu te faço o dom mais alto de todos. Tu serás o único de Meus doze filhos que Me compreenderá. Mas este dom do entendimento é só para ti, Pisces, pois quando tentares difundi-lo entre os homens, eles não te escutarão."
E Pisces voltou ao seu lugar.
 
...Então Deus disse: "Cada um de vós tem uma parte da Minha Idéia. Não deveis confundir a parte com o todo dessa Idéia, nem podereis negociar vossas partes entre vós. Pois cada um de vós é perfeito, mas não compreendereis isso até que vós doze sejais Um. Pois então o todo da Minha Idéia será revelado a cada um de vós."
 
E as crianças foram embora, cada uma determinada a executar seu trabalho da melhor maneira, para poder receber o dom que lhe havia de caber. Mas nenhum entendeu plenamente a tarefa, e quando voltaram confusos, Deus disse: "Cada um de vós acredita que o dom do outro é melhor. Por isso, Eu permitirei que negocieis entre vós." E, por um momento, cada criança ficou entusiasmada, imaginando as possibilidades da nova missão.
 
Mas Deus sorriu e disse:
"Voltareis a Mim muitas vezes, pedindo-Me para serdes libertados de vossas missões. E em cada vez que isso acontecer, Eu atenderei vosso pedido. Passareis através de inumeráveis encarnações antes que a missão originária que vos prescrevi esteja completada. Dou-vos um tempo infinito para que a completeis, pois só quando terminada a missão é que podereis estar Comigo."
 
(por Martin Schulman - trata-se de um autor inglês, diretor da Essene School of Astrology).
E trata-se, evidentemente, de uma alegoria.
 
Há 20 anos atrás, junto com minha prima Renata, o Sean, a Sandra e o Ricardo, o irmão do Jean, eu participava de aulas de marcenaria com o querido e místico Eddy, o Edvar, querido professor de marcenaria que, de quando em quando, entre a feitura de uma mesa ou uma cadeira, uma vez por semana nos dava aulas de marcenaria e... lições místicas...Uma delas foi a leitura e a discussão deste texto. Muitas saudades querido Eddy, que Deus o tenha!  
 
 

sábado, 4 de janeiro de 2014

A flor e o espinho

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor...
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor...

Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor...
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor...

Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

É no espelho que eu vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus olhos rasos d´água
Eu na sua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor...
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor...

Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

(Guilherme de Brito - Alcides Caminha - Nelson Cavaquinho)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A Grande Beleza

"O mergulho em tudo o que se faz e constrói na vida vem acompanhada do nosso maior bem imensurável, a memória. Adentrar nas profundezas do próprio silêncio e sentimento nos leva a trabalhar a imaginação, pois o resto; é dor e solidão. Bebendo da fonte de um dos maiores e mais influentes escritores do século passado, o francês Louis-Ferdinand Céline, o diretor italiano Paolo Sorrentino símbolo da nova vanguarda cinematográfica que surge depois de um hiato de duas décadas em um país prolífico de cineasta, consagrados, como Fellini, Antonioni, De Sica, Pasolini e Rossellini, constrói o personagem de humor cínico e desconsolado Jep Gambardella (encarnado pelo magistral Toni Servillo, de Il Divo – dirigido também por Sorrentino), em A Grande Beleza." (Tiago Canavarros, in www.cartazdacultura.com )
 
 
Que filme belo! como diriam meus amigos italianos...Que magia! Guarda! Sente! Que alquimia de música, cinema, filosofia, poesia...tudo para mostrar, de um lado, a grande beleza e, de outro, a miséria humana... O personagem central se chama Jep Gambardella. Tendo escrito um único romance em toda a sua vida ("O Aparelho Humano"), que fez sucesso décadas atrás, ele agora se vê com 65 anos. Adulado e bajulado por pessoas da alta sociedade, ele dá festas em sua casa. Vaga pelas ruas, olha o cotidiano, vive, espia seu próprio passado e reencontra um verdadeiro amor da juventude em suas antigas lembranças... Mas afinal, o que somos ? O que estamos representando nesse palco chamado mundo ? Sim...somos todos atores de um filme que nunca acaba até o último suspiro do último ser humano nessa vida, nessas milhões de vidas que se misturam entre continentes, entre raças, povos, credos, incertezas, convicções, filosofias, medos, criações, trabalhos, suores, bebidas, comidas, rotinas, ritos, mitos, canções e aviões... Paolo Sorrentino fez poesia com sua câmera; misturou a realidade com a fantasia...mostrou um pouco do que nós somos feitos: de desejos, medos, vícios, alegria, sexo, vontade, esperança, traumas, paúra...Medo da morte...Saudades dos que já foram...Desejo intenso de viver a vida...E agora a pergunta do Abujamra...O que é a vida ? A vida é um teatro. A vida é cinema. A vida é vivida, sentida, chorada, querida...A vida é um espetáculo...Mas ela é breve...Ela corre e se esvai com o tempo...E o que fica ? O sucesso de um livro escrito ? O amor da infância ? O amor da juventude ? A desesperança ? O sucesso de uma carreira ? As festas ? A busca ? A construção de um edifício ? O tempo passado com os amigos ?  A formação de uma família ? Um casamento despedaçado ? Uma lavoura ? A vida é uma criança, um jovem, um homem, um velho. É o tempo passando... É a mulher grávida, esperando... É o homem com enxada na mão, labutando... É a velha sábia da aldeia, curando... E é incrível (e não à toa) que o filme se passa em Roma. Roma! Palco central da humanidade por mais de quatro séculos...que se foram...que se foram...E a casa do personagem central fica ao lado do Coliseu...com uma vista fantástica para a vida, a Itália querida...
 
 
"Quando vim para Roma, aos 26 anos, tudo aconteceu muito rápido. Quase que sem perceber, estava no que chamam de o auge da vida. Mas eu não queria ser apenas um mundano, queria ser o rei dos mundanos. Não queria apenas frequentar festas, mas ter o poder de fazer delas um fracasso. Tudo é decidido por trás da fofoca e do barulho. Em silêncio e com sentimento. Emoção e medo. Do feio, há pinceladas de beleza. Da imundície desgraçada, a humanidade miserável."