Ernest Shackleton era uma espécie de navegador que gostava de desafios e queria deixar seu nome na história. Podia ter defeitos, mas era um líder sem igual. Seu objetivo era atravessar o continente antártico, o continente gelado para ser o primeiro homem a realizar esse feito. O início do século XX era uma época em que algumas regiões do globo ainda não tinham sido visitadas pelo homem, mas tanto o Polo Norte quanto o Polo Sul já tinham sido atingidos por navegadores (Amundsen e Scott, respectivamente) ao tempo da citada expedição.
O plano geral de Shackleton era levar o navio até o mar de Weddel e desembarcar uma expedição de trenós composta de seis homens e 70 cães. Atravessar o continente gelado a pé (com os trenós e os cães) e pegar um navio do outro lado, que deveria estar esperando e fazer um retorno glorioso à Europa. Shackleton comprou e preparou o melhor barco que conseguiu, o Endurance, fabricado na Noruega.
Feitos os preparativos o navio partiu da Inglaterra com direção ao Polo Sul. Depois de uma breve escala na Argentina, o navio seguiu seu rumo. Quase chegando na Antártida, o navio atolou no meio de blocos de gelo, em uma espécie de "sopa de gelo". Depois, os ventos mudaram, a temperatura caiu, as gigantescas pedras de gelo endureceram e prenderam o navio irremediavelmente. O navio ficou preso tal qual uma amêndoa em uma barra de chocolate. Depois, ao longo de meses, o navio foi prensado pelas gigantescas pedras de gelo, que faziam sons medonhos, e acabou afundando.
Após o naufrágio do Endurance e antes de se afastarem do navio à pé, arrastando os trenós e os três barcos pequenos no gelo, Shackleton exorta a tripulação a reduzir o peso e a carga ao mínimo essencial. "Cada um, disse, ficaria com as roupas que estava vestindo e mais dois pares de luvas, seis pares de meias, dois pares de botas, um saco de dormir, uma libra (cerca de meio quilo) de tabaco - e duas libras de artigos pessoais. Falando com a máxima convicção, Shackleton afirmou que nada tinha o menor valor se comparado à sobrevivência, e exortou todos a serem impiedosos ao se desfazerem de cada grama de peso desnecessário, qualquer que fosse seu valor. Depois de falar, enfiou a mão sob sua parka, tirou uma cigarreira de ouro e vários soberanos de ouro e os atirou na neve a seus pés. Depois, abriu a Bíblia que a rainha Alexandra lhe dera, arrancou a folha de rosto e a página que continha o Salmo 23. Também arrancou a página do Livro de Jó que continha o seguinte versículo:
Depois, atirou a Bíblia na neve e se afastou. Foi um gesto teatral, mas era o que Shackleton pretendia".
Livre dos excessos e apenas com o essencial, era preciso seguir em frente.