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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Hannah e suas irmãs

Não é possível, num único texto, falar tudo sobre Woody Allen. Nem em um livro seria possível... Possível são apenas algumas considerações, transcrições e comentários...e é só. Depois de já ter assistido mais de 7 filmes do mestre, cuja alma considero mais européia do que norte-americana, digo que os filmes de Woody Allen apenas confirmam que somo meros atores e atrizes num palco chamado mundo, e a direção do filme não está em nossas mãos, mas nas mãos do Grande Diretor desse espetáculo mundano...E é Ele, afinal, que nos dá vida e nos deixa mover pra lá e pra cá...às vezes como baratas tontas, à procura de algo...sempre a procura de algo...talvez à procura de quem nós somos...talvez à procura de quem não somos... Oh...a necessidade humana...o desejo, a alegria, a tristeza, o medo, a culpa cristã, a vontade...não sei de quê...E no belo filme "Hannah e suas irmãs", Allen nos dá mais um mosaico das relações humanas encontradas e desencontradas...O tema das três irmãs é universal e manjado e já foi vertido para o teatro há séculos atrás por Tchecov...Mas Allen atualizou...com competência. Além de tudo, de todos os altos e baixos que há nas relações entre marido e mulher, amigos, irmãs, irmãos, e pais e filhos, Allen, no meio do filme, consegue colocar um texto crítico primoroso em face da sociedade contemporânea. Lá pelas tantas, enquanto uma irmã de Hannah volta para casa depois de transar com o cunhado, o marido traído, interpretado pelo já mitológico ator Max Von Sydow, fala:
 
"- Perdeu um programa de TV sobre Auschwitz. Mais imagens chocantes. E mais intelectuais perplexos declarando sua mistificação sobre a morte de milhões. Nunca responderão à pergunta: 'Como pôde ter acontecido ?' Porque é a pergunta errada. Deviam perguntar: "Porque não acontece com mais frequência ?". Acontece, só que sutilmente.
(...)
Fazia tempo que não me sentava em frente à TV, mudando de canal para achar algo. Você vê toda a cultura: nazistas, vendedores de desodorante, lutadores, concursos de beleza, programas de entrevistas. Imagine o nível intelectual de quem assiste luta livre. Mas o pior são os pastores. Trapaceiros que mentem aos pobres telespectadores dizendo que falam com Jesus. E pedem dinheiro! Se Jesus voltasse e vissem o que fazem usando o nome dele não pararia de vomitar."
 
Aqui entre nós, o bom do Woody Allen é que ele externaliza os pensamentos dos personagens. Senão de todos, dos principais...revelando a vida psíquica de cada qual. Isso é muito rico! Nos faz parecer normais, humanos, mesmo com os pensamentos mais absurdos que possamos ter... E, no final dos anos 70 e começo dos anos 80, isso era novo no cinema, pelo menos dessa forma. E, ainda hoje, é muito revelador da natureza humana.  
 
 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Recursos ordinários e extraordinários

Um sujeito praticou um crime em 2006.  Fato banal, corriqueiro, diuturno, habitual, cotidiano...Centenas de crimes são praticados por dia no Brasil. (Pode ser um crime de tráfico de drogas, moeda falsa, apropriação indébita previdenciária etc.). Até aí nada de mais. O que tem de mais é o extenso e quase infindável leque de recursos que existe no ordenamento jurídico brasileiro. Nosso sujeito hipotético foi processado, julgado e, ao final de muitos anos, condenado. O processo foi regido pelo contraditório e pela ampla defesa. Como em todo Estado Democrático de Direito, o réu contou com a defesa de um advogado e um julgamento justo, pautado na lei previamente conhecida. Inconformado com a condenação, ele interpôs recurso de apelação. O Tribunal, julgando seu recurso, confirmou a sentença condenatória proferida em primeiro grau de jurisdição. Detalhe: a turma recursal de um dos Tribunais Regionais Federais do Brasil é composta por 4 desembargadores e, no caso, a decisão foi unânime. Ainda inconformado, o réu interpôs recurso especial (dirigido ao STJ). O recurso não foi admitido pelo TRF. Inconformado com a não admissão do recurso especial, o réu interpôs agravo de instrumento que, ao final, não foi conhecido pelo STJ por ausência dos requisitos legais. Por não interpor mais recurso (até caberia), aquela longínqua decisão proferida em primeiro grau de jurisdição e confirmada pelo TRF finalmente transitou em julgado no ano de 2009. O chamado trânsito em julgado coloca uma "pá de cal" em cima da questão, como se ela estivesse morta e enterrada. Bom...isso em princípio. No Direito sempre há exceções e brechas... E corpos de pessoas mortas são exumados, não são ? Pois é...nosso sujeito hipotético, depois de alguns anos, vem, por meio de uma simples carta (escrita de próprio punho) endereçada ao Vice-Presidente do TRF, requerer revisão criminal e a nomeação de um defensor público. Desse modo, o sujeito, por meio da Defensoria, requer a rescisão do julgado alegando que a sentença condenatória foi contrária ao texto expresso da lei ou à evidência dos autos (isso até pode ocorrer, mas não é comum). Os autos são endereçados ao MPF que redige um parecer opinando pela improcedência do pedido revisional. Um ano depois, finalmente, provocado a se manifestar, o TRF decide, por unanimidade, julgar improcedente a revisão criminal. Ufa...Opa, pensa que acabou ? Não...Irresignado com a decisão da Turma recursal, o nosso sujeito, por intermédio da Defensoria, interpõe novo recurso especial, agora contra o venerando acórdão que julgou improcedente a revisão criminal. Este recurso ainda está pendente de julgamento...
 
Vamos mudar esse estado de coisas ? Vamos mudar o sistema recursal ? Pera aí, diria um advogado, a questão é muito mais complexa do que se imagina...

 
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

São Paulo: 460 anos


São Paulo: cidade que acolhe e, ao mesmo tempo, devora...
Cidade de muito trabalho e pouco tempo.
Local que a todos lapida e esfola...
A capital da solidão, do trabalho, dos bondes, da multidão.
Para onde convergiram os de dentro e os de fora.

São Paulo: de arraial de sertanistas a burgo de estudantes (1554-1828),
demorou quase 300 anos...
Mas depois, de burgo de estudantes à metrópole foi um pulo.
Quem diria ?
Pulo não, salto. Inédito na história do mundo.
São Paulo: cidade que assusta tanto os interioranos,
quanto os migrantes ou imigrantes.
E onde passamos a maior parte dos nossos queridos anos...

Índios, caboclos, mulatos, cafuzos, mamelucos, portugueses...
De 1554 a 1828 foi mais ou menos do mesmo.
Segundo Ernani da Silva Bruno: um arraial de sertanistas.
Provinciana, pequena, esquecida até...
Fez parte da Capitania de São Vicente.
Mas depois de 1870 ? Hum...Não mais parou...
Parece até que (como dizia minha avó) caçoou da gente.

São Paulo: cidade que desperta amor e ódio.
Cidade do futuro, do trabalho, das oportunidades...
Hã...Para alguns trabalhos duros, para outros, moles.
Quando o capital entrou na Capital, esta não conseguiu mais parar...
Época em que as ferrovias transportavam a riqueza dos cafezais.
No começo vieram portugueses e italianos, principalmente.
Depois vieram alemães, armênios, judeus, japoneses, árabes
e toda sorte de estrangeiros que quiseram aqui aportar.

Mas de sua história e de sua alma, ainda falta muito descobrir e revelar.
Muita tenacidade, orgulho, trabalho, preconceito e violência.
Que a Antropologia ainda há de descobrir...de decifrar...
Terra de onde partiram bandeirantes para o oeste, para o sertão, para Goiás...
Terra onde aqui chegaram levas e levas de imigrantes para a América ganhar...

São Paulo: cidade que acolhe e, ao mesmo tempo, devora...
Cidade de muito trabalho e pouco tempo.
Local que a todos lapida e esfola...
A capital da solidão, do trabalho, dos carros, da multidão.
Para onde convergiram os de dentro e os de fora.
                                                       (Geraldo Meirelles)

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

OIT e OXFAM: o desemprego e a desigualdade social aumentaram no mundo.

Saiu no jornal hoje uma matéria muito preocupante no caderno de Economia. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a entidade Oxfam (Comitê de Oxford de Combate à Fome) divulgaram dados que revelam as consequências da crise financeira de 2008. Para a OIT e a Oxfam, a crise mundial gerou uma concentração de renda inédita no planeta nos últimos 70 anos e fez o número de desempregados bater recorde. Segundo a pesquisa, a crise financeira de 2008 expulsou do mercado de trabalho 62 milhões de pessoas no mundo e, hoje, 202 milhões de pessoas estão desempregadas, o que equivale à população brasileira. Os mais afetados estão na Ásia e Europa. Mais ainda, a pesquisa da OIT revelou que, 5 anos após a crise financeira de 2008, a desigualdade social no mundo também aumentou de forma significativa. Os ricos estão mais ricos, os pobres mais pobres e as classes médias tiveram sua renda e seu patrimônio corroídos. Para se ter um idéia, 1% da população detém 50% do PIB do mundo. Cerca de 10% da população mundial controla 86% dos ativos do planeta. Nos EUA, 95% do crescimento gerado após a crise de 2008 ficou nas mãos de 1% da população. As dez pessoas mais ricas da Europa mantêm fortunas equivalentes a todos os pacotes de resgate aos países da região entre 2008 e 2010, isto é, cerca de 200 bilhões de euros. Segundo Winnie Byanyima, diretora da Oxfam, "a concentração de renda aconteceu por um processo em que a elite levou o processo político a desenhar regras no sistema econômico que a favorecessem."  
Nesse contexto, o Brasil é um oásis no meio desse deserto. Muito resumidamente, graças aos últimos 19 anos pudemos controlar a inflação, crescer, distribuir renda e diminuir drasticamente o desemprego. Todavia, já é certo que a forte desaceleração da economia brasileira que estamos experimentando afetará a criação de novos postos de trabalho nos próximos anos, afora outros problemas...

sábado, 11 de janeiro de 2014

Soneto póstumo

Ano passado descobri Mário Quintana...Aos 42 anos...



- Boa tarde... - Boa tarde! E a doce amiga
E eu, de novo, lado a lado vamos!
Mas há um não sei quê, que nos intriga:
Parece que um ao outro procuramos...

E, por piedade ou gratidão, tentamos
Representar de novo a história antiga.
Mas vem-me a idéia...nem sei como a diga...
Que fomos outros que nos encontramos!

Não há remédio: é separar-nos, pois.
E as nossas mãos amigas se estenderam:
- Até breve! - Até breve! - E, com espanto

Ficamos a pensar nos outros dois.
Aqueles dois que há tanto já morreram...
E que, um dia, se quiseram tanto!
                                              (Mário Quintana)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

As doze tarefas

"... E naquela manhã, Deus compareceu ante suas doze crianças e em cada uma delas plantou a semente da vida humana. Uma por uma, cada criança deu um passo à frente para receber o dom que lhe cabia.
 
1) "Para ti, Áries, dou a primeira semente, para que tenhas a honra de plantá-la. Para cada semente que plantares, mais outro milhão de sementes se multiplicará em tuas mãos. Não terás tempo de ver a semente crescer, pois tudo o que plantares criará cada vez mais e mais para ser plantado. Tu serás o primeiro a penetrar o solo da mente humana levando Minha Idéia. Mas não cabe a ti alimentar e cuidar dessa idéia, nem questioná-la. Tua vida é ação, e a única ação que te atribuo é a de dar o passo inicial para tornar os homens conscientes da Minha Criação. Por esse trabalho, Eu te concedo a virtude do Respeito por Ti mesmo."
Silenciosamente, Áries retornou ao seu lugar.
 
2) "Touro: A ti Eu dou o poder de transformar a semente em substância. Grande é a tua tarefa, e requer paciência; pois tens de terminar tudo o que foi começado, para que as sementes não sejam dispersas pelo vento. Não deves, assim, questionar; também não deves mudar de idéia no meio do caminho, nem depender dos outros para a execução do que te peço. Para isso, Eu te concedo o dom da Força. Trata de usá-la sabiamente."
E Touro voltou para seu lugar.
 
3) "A ti, Gêmeos, Eu dou as perguntas sem respostas, para que possas levar a todos um entendimento daquilo que o homem vê ao seu redor. Tu nunca saberás por que os homens falam ou escutam, mas em tua busca pela resposta encontrarás o Meu dom, reservado para ti: o Conhecimento."
E Gêmeos voltou ao seu lugar.
 
4) A ti, Câncer, atribuo a tarefa de ensinar aos homens a emoção. Minha Idéia é que provoques neles risos e lágrimas, de modo que tudo o que eles vejam e sintam desenvolva uma plenitude desde dentro. Para isso, Eu te dou o dom da Família, para que tua plenitude possa multiplicar-se."
E Câncer voltou ao seu lugar.
 
5) "A ti, Leo, atribuo a tarefa de exibir ao mundo Minha Criação em todo o seu esplendor. Mas deves ter cuidado com o orgulho, e sempre lembrar que é Minha Criação, e não tua. Se o esqueceres, serás desprezado pelos homens. Há muita alegria em teu trabalho; basta fazê-lo bem. Para isso, Eu te concedo o dom da Honra."
E Leo voltou ao seu lugar.
 
6) "A ti, Virgo, peço que empreendas um exame de tudo o que os homens fizeram com Minha Criação. Terás que observar com perspicácia os caminhos que percorrem, e lembrá-los de seus erros, de modo que através de ti Minha Criação possa ser aperfeiçoada. Para que assim o faça, Eu te concedo o dom da Pureza de Pensamento."
E Virgo retornou ao seu lugar.
 
7) "A ti, Libra, dou a missão de servir, para que o homem esteja ciente dos seus deveres para com os outros; para que ele possa aprender a cooperação, assim como a habilidade de refletir o outro lado das suas ações. Hei de levar-te aonde quer que haja discórdia, e por teus esforços te concedo o dom do Amor."
E Libra voltou ao seu lugar.
 
8) "A ti, Scorpio, darei uma tarefa muito difícil. Terás a habilidade de conhecer a mente dos homens, mas não te darei a permissão de falar sobre o que aprenderes. Muitas vezes te sentirás ferido por aquilo que vês, e em tua dor te voltarás contra Mim, esquecendo que não sou Eu, mas a perversão da Minha Idéia que te faz sofrer. Verás tanto e tanto do ser humano, que chegarás a conhecer o homem enquanto animal, e lutarás tanto com os instintos animais em ti mesmo, que perderás o teu caminho; mas quando finalmente voltares a mim, Scorpio, terei para ti o dom supremo da Finalidade."
E Scorpio retornou ao seu lugar.
 
9) "Sagitário, a ti Eu peço que faças os homens rirem, pois entre as suas distorções da Minha Idéia eles se tornam amargos. Através do riso, darás ao homem a esperança, e através da esperança voltarás os seus olhos novamente para Mim. Chegarás a ter muitas vidas, ainda que só por um momento; e em cada vida que atingires conhecerás a inquietação. A ti, Sagitário, darei o dom da infinita Abundância, para que te possas expandir o bastante até atingir cada recanto onde haja escuridão, e levar até ele a luz."
E Sagitário voltou para o seu lugar.
 
10) "De ti, Capricórnio, quero suor da tua fronte, para que possas ensinar aos homens o trabalho. Não é fácil a tua tarefa, pois sentirás todo o labor dos homens cair sobre os teus ombros; mas, pelo jugo da tua carga, ponho em tuas mãos a Responsabilidade sobre o homem."
E Capricórnio retornou ao seu lugar.
 
11) "A ti, Aquarius, dou-te  o conceito de futuro, para que atráves de ti o homem possa ver outras possibilidades. Terás a dor da solidão, pois não te permito personalizar o Meu amor. Mas, para que possas voltar os olhares humanos em direção a novas possibilidades, eu te concedo o dom da Liberdade, de modo que livre possas continuar a servir a humanidade onde quer que ela necessite de ti."
E Aquarius voltou ao seu lugar.
 
12) "A ti, Pisces, dou a mais difícil tarefa de todas. Peço-te  que reúnas todas as tristezas dos homens e as tragas de volta para Mim. Tuas lágrimas serão, no fundo, Minhas lágrimas. A tristeza e os padecimentos que terás de absorver são o efeito das distorções impostas pelo homem à Minha Idéia, mas a ti cabe levar até ele a compaixão, para que ele possa tentar de novo. Por essa tarefa supremamente difícil, Eu te faço o dom mais alto de todos. Tu serás o único de Meus doze filhos que Me compreenderá. Mas este dom do entendimento é só para ti, Pisces, pois quando tentares difundi-lo entre os homens, eles não te escutarão."
E Pisces voltou ao seu lugar.
 
...Então Deus disse: "Cada um de vós tem uma parte da Minha Idéia. Não deveis confundir a parte com o todo dessa Idéia, nem podereis negociar vossas partes entre vós. Pois cada um de vós é perfeito, mas não compreendereis isso até que vós doze sejais Um. Pois então o todo da Minha Idéia será revelado a cada um de vós."
 
E as crianças foram embora, cada uma determinada a executar seu trabalho da melhor maneira, para poder receber o dom que lhe havia de caber. Mas nenhum entendeu plenamente a tarefa, e quando voltaram confusos, Deus disse: "Cada um de vós acredita que o dom do outro é melhor. Por isso, Eu permitirei que negocieis entre vós." E, por um momento, cada criança ficou entusiasmada, imaginando as possibilidades da nova missão.
 
Mas Deus sorriu e disse:
"Voltareis a Mim muitas vezes, pedindo-Me para serdes libertados de vossas missões. E em cada vez que isso acontecer, Eu atenderei vosso pedido. Passareis através de inumeráveis encarnações antes que a missão originária que vos prescrevi esteja completada. Dou-vos um tempo infinito para que a completeis, pois só quando terminada a missão é que podereis estar Comigo."
 
(por Martin Schulman - trata-se de um autor inglês, diretor da Essene School of Astrology).
E trata-se, evidentemente, de uma alegoria.
 
Há 20 anos atrás, junto com minha prima Renata, o Sean, a Sandra e o Ricardo, o irmão do Jean, eu participava de aulas de marcenaria com o querido e místico Eddy, o Edvar, querido professor de marcenaria que, de quando em quando, entre a feitura de uma mesa ou uma cadeira, uma vez por semana nos dava aulas de marcenaria e... lições místicas...Uma delas foi a leitura e a discussão deste texto. Muitas saudades querido Eddy, que Deus o tenha!  
 
 

sábado, 4 de janeiro de 2014

A flor e o espinho

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor...
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor...

Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor...
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor...

Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

É no espelho que eu vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus olhos rasos d´água
Eu na sua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor...
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor...

Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

(Guilherme de Brito - Alcides Caminha - Nelson Cavaquinho)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A Grande Beleza

"O mergulho em tudo o que se faz e constrói na vida vem acompanhada do nosso maior bem imensurável, a memória. Adentrar nas profundezas do próprio silêncio e sentimento nos leva a trabalhar a imaginação, pois o resto; é dor e solidão. Bebendo da fonte de um dos maiores e mais influentes escritores do século passado, o francês Louis-Ferdinand Céline, o diretor italiano Paolo Sorrentino símbolo da nova vanguarda cinematográfica que surge depois de um hiato de duas décadas em um país prolífico de cineasta, consagrados, como Fellini, Antonioni, De Sica, Pasolini e Rossellini, constrói o personagem de humor cínico e desconsolado Jep Gambardella (encarnado pelo magistral Toni Servillo, de Il Divo – dirigido também por Sorrentino), em A Grande Beleza." (Tiago Canavarros, in www.cartazdacultura.com )
 
 
Que filme belo! como diriam meus amigos italianos...Que magia! Guarda! Sente! Que alquimia de música, cinema, filosofia, poesia...tudo para mostrar, de um lado, a grande beleza e, de outro, a miséria humana... O personagem central se chama Jep Gambardella. Tendo escrito um único romance em toda a sua vida ("O Aparelho Humano"), que fez sucesso décadas atrás, ele agora se vê com 65 anos. Adulado e bajulado por pessoas da alta sociedade, ele dá festas em sua casa. Vaga pelas ruas, olha o cotidiano, vive, espia seu próprio passado e reencontra um verdadeiro amor da juventude em suas antigas lembranças... Mas afinal, o que somos ? O que estamos representando nesse palco chamado mundo ? Sim...somos todos atores de um filme que nunca acaba até o último suspiro do último ser humano nessa vida, nessas milhões de vidas que se misturam entre continentes, entre raças, povos, credos, incertezas, convicções, filosofias, medos, criações, trabalhos, suores, bebidas, comidas, rotinas, ritos, mitos, canções e aviões... Paolo Sorrentino fez poesia com sua câmera; misturou a realidade com a fantasia...mostrou um pouco do que nós somos feitos: de desejos, medos, vícios, alegria, sexo, vontade, esperança, traumas, paúra...Medo da morte...Saudades dos que já foram...Desejo intenso de viver a vida...E agora a pergunta do Abujamra...O que é a vida ? A vida é um teatro. A vida é cinema. A vida é vivida, sentida, chorada, querida...A vida é um espetáculo...Mas ela é breve...Ela corre e se esvai com o tempo...E o que fica ? O sucesso de um livro escrito ? O amor da infância ? O amor da juventude ? A desesperança ? O sucesso de uma carreira ? As festas ? A busca ? A construção de um edifício ? O tempo passado com os amigos ?  A formação de uma família ? Um casamento despedaçado ? Uma lavoura ? A vida é uma criança, um jovem, um homem, um velho. É o tempo passando... É a mulher grávida, esperando... É o homem com enxada na mão, labutando... É a velha sábia da aldeia, curando... E é incrível (e não à toa) que o filme se passa em Roma. Roma! Palco central da humanidade por mais de quatro séculos...que se foram...que se foram...E a casa do personagem central fica ao lado do Coliseu...com uma vista fantástica para a vida, a Itália querida...
 
 
"Quando vim para Roma, aos 26 anos, tudo aconteceu muito rápido. Quase que sem perceber, estava no que chamam de o auge da vida. Mas eu não queria ser apenas um mundano, queria ser o rei dos mundanos. Não queria apenas frequentar festas, mas ter o poder de fazer delas um fracasso. Tudo é decidido por trás da fofoca e do barulho. Em silêncio e com sentimento. Emoção e medo. Do feio, há pinceladas de beleza. Da imundície desgraçada, a humanidade miserável."