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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A Grande Beleza

"O mergulho em tudo o que se faz e constrói na vida vem acompanhada do nosso maior bem imensurável, a memória. Adentrar nas profundezas do próprio silêncio e sentimento nos leva a trabalhar a imaginação, pois o resto; é dor e solidão. Bebendo da fonte de um dos maiores e mais influentes escritores do século passado, o francês Louis-Ferdinand Céline, o diretor italiano Paolo Sorrentino símbolo da nova vanguarda cinematográfica que surge depois de um hiato de duas décadas em um país prolífico de cineasta, consagrados, como Fellini, Antonioni, De Sica, Pasolini e Rossellini, constrói o personagem de humor cínico e desconsolado Jep Gambardella (encarnado pelo magistral Toni Servillo, de Il Divo – dirigido também por Sorrentino), em A Grande Beleza." (Tiago Canavarros, in www.cartazdacultura.com )
 
 
Que filme belo! como diriam meus amigos italianos...Que magia! Guarda! Sente! Que alquimia de música, cinema, filosofia, poesia...tudo para mostrar, de um lado, a grande beleza e, de outro, a miséria humana... O personagem central se chama Jep Gambardella. Tendo escrito um único romance em toda a sua vida ("O Aparelho Humano"), que fez sucesso décadas atrás, ele agora se vê com 65 anos. Adulado e bajulado por pessoas da alta sociedade, ele dá festas em sua casa. Vaga pelas ruas, olha o cotidiano, vive, espia seu próprio passado e reencontra um verdadeiro amor da juventude em suas antigas lembranças... Mas afinal, o que somos ? O que estamos representando nesse palco chamado mundo ? Sim...somos todos atores de um filme que nunca acaba até o último suspiro do último ser humano nessa vida, nessas milhões de vidas que se misturam entre continentes, entre raças, povos, credos, incertezas, convicções, filosofias, medos, criações, trabalhos, suores, bebidas, comidas, rotinas, ritos, mitos, canções e aviões... Paolo Sorrentino fez poesia com sua câmera; misturou a realidade com a fantasia...mostrou um pouco do que nós somos feitos: de desejos, medos, vícios, alegria, sexo, vontade, esperança, traumas, paúra...Medo da morte...Saudades dos que já foram...Desejo intenso de viver a vida...E agora a pergunta do Abujamra...O que é a vida ? A vida é um teatro. A vida é cinema. A vida é vivida, sentida, chorada, querida...A vida é um espetáculo...Mas ela é breve...Ela corre e se esvai com o tempo...E o que fica ? O sucesso de um livro escrito ? O amor da infância ? O amor da juventude ? A desesperança ? O sucesso de uma carreira ? As festas ? A busca ? A construção de um edifício ? O tempo passado com os amigos ?  A formação de uma família ? Um casamento despedaçado ? Uma lavoura ? A vida é uma criança, um jovem, um homem, um velho. É o tempo passando... É a mulher grávida, esperando... É o homem com enxada na mão, labutando... É a velha sábia da aldeia, curando... E é incrível (e não à toa) que o filme se passa em Roma. Roma! Palco central da humanidade por mais de quatro séculos...que se foram...que se foram...E a casa do personagem central fica ao lado do Coliseu...com uma vista fantástica para a vida, a Itália querida...
 
 
"Quando vim para Roma, aos 26 anos, tudo aconteceu muito rápido. Quase que sem perceber, estava no que chamam de o auge da vida. Mas eu não queria ser apenas um mundano, queria ser o rei dos mundanos. Não queria apenas frequentar festas, mas ter o poder de fazer delas um fracasso. Tudo é decidido por trás da fofoca e do barulho. Em silêncio e com sentimento. Emoção e medo. Do feio, há pinceladas de beleza. Da imundície desgraçada, a humanidade miserável."
 
 

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