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sábado, 26 de março de 2016

Éramos seis



Há tempos vinha acalentando a ideia de ler um livro específico. É estranho como algumas ideias ou pensamentos nos pescam assim, no meio do cotidiano, enquanto estamos estendendo a roupa no varal, fazendo café, tomando banho ou arrumando a cama. E depois, sobrevém momentos em que há memórias de infância que não nos dão trégua e ficam martelando nas nossas cabeças. Assim foi com o livro que tentarei fazer uma sinopse a seguir. O título acima refere-se a um livro escrito e lançado por Maria José Dupret em 1943. Virou novela no Brasil na década de 1970 (daí minha lembrança - eu devia ter uns 5 anos) e, soube recentemente, filme na Argentina. Dupret narra a estória de uma família de classe média paulistana, no começo do século XX, lutando para sobreviver. Dona Lola, casada com Seu Júlio e seus quatros filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Isabel. Como em toda família, cada personagem tem uma personalidade completamente diferente da outra. Seu Júlio, o pai, é trabalhador responsável, mas de gênio violento e cardíaco. Dona Lola é amorosa, conciliadora e do tipo que pensa mais nos outros do que em si mesma. Carlos, o filho mais velho, é responsável e estudioso. Alfredo é violento, gosta das ruas e passa longe dos livros. Julinho é estudioso e comportado. E Isabel, a caçula, é romântica e sonhadora. A narrativa é, sobretudo, triste. O que lemos nas páginas desse romance é o cotidiano de gente simples, que trabalha, estuda, economiza para pagar as contas, cria os filhos e os vê crescendo, enquanto o tempo vai passando... Enfim, gente comum, gente que vemos nas ruas, tropeçamos, conversamos e, às vezes, não nos damos conta que são, afinal, gente como a gente. A narradora é a mãe e, portanto, o olhar vem dessa perspectiva, com tudo de parcial (olhar de mãe) e pessoal (amorosa, sofredora) que nele possa haver. O romance tem uma carga realista não só porque narra como era difícil a vida naquele tempo (o arco temporal vai mais ou menos de 1915 a 1943), contando em minúcias o cotidiano de uma família, como também passa por fatos históricos. A família, que mora em uma modesta casa da Avenida Angélica, em São Paulo, passa pela Primeira Guerra Mundial, a Revolução de 1924 e a Revolução de 1932. Li outro dia na internet que Maria José Dupret, a autora, é subestimada pelos críticos de literatura brasileira. Concordo. Foi com ela que milhares de crianças brasileiras começaram a gostar de ler, como, por exemplo, "Aventuras de Vera, Lúcia, Pingo e Pipoca", "A mina de ouro", "A ilha perdida" e "O cachorrinho samba".