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sábado, 16 de agosto de 2014

Banquete das três jovens de Bagdá

"Eu tive notícia, ó rei venturoso, de que um morador da cidade de Bagdá era solteiro e exercia a profissão de carregador. Certo dia, estando parado no mercado, encostado ao seu cesto de carga, passou por ele uma mulher enrolada num manto de muselina com forro de seda, usando um lenço bordado a ouro; calçava botinas douradas presas com cordão esvoaçante e polainas de laços também esvoaçantes. Ela parou diante dele, puxou o véu, debaixo do qual apareceram olhos negros, franjas e pálpebras longas com cílios cuidadosamente alongados (...). A jovem disse, com palavras suaves e tom sedutor: "Pegue o seu cesto e me siga, carregador". Ao ouvir tais palavras, ele mal pôde se conter e, tomando o baú, acorreu e disse: "Que dia de felicidade! Que dia de ventura!", e seguiu atrás dela, que caminhou à sua frente até se deter diante de uma casa em cuja porta bateu. Apresentou-se então um velho cristão a quem ela deu um dinar, dele recebendo um jarro verde-oliva de vinho. (...) Parou na loja de um verdureiro, do qual comprou maçã verde, marmelo turco, pêssego de Hebron, maçã moscatel, jasmim alepino, nenúfar damasceno, pepino pequeno e fino, limão de viagem, laranja real, mirta, manjericão, alfena, camomila, goivo, açucena, lírio, papoula, crisântemo, matricária, narciso e flor de romãzeira. Colocou tudo na cesta do carregador, que continuou a segui-la." A jovem foi ao açougueiro e comprou dez arráteis de boa carne de carneiro e carvão. Foram ao quitandeiro e a jovem comprou "um conjunto completo de condimentos que continha aperitivos defumados, azeitona curtida, azeitona descaroçada, estragão, coalhada seca, queijo sírio e picles adocicado. Saindo do quitandeiro, a jovem foi até o vendedor de frutas secas e comprou pistache descascado para usar como aperitivo, passas alepinas, amêndoas descascadas, cana-de-açúcar iraquiana, figos prensados de Baalbeck, avelãs descascadas e grão-de-bico assado. (...) "depositando-os na cesta do carregador, para quem se voltou dizendo: "Pegue a sua cesta e me siga", e ele levantou a cesta e caminhou atrás da jovem, até que ela se deteve diante do doceiro, de quem comprou uma bandeja cheia com tudo o que ele tinha: doces e pães ao modo armênio e cairota, pastéis almiscarados com recheio doce, bolos e confeitos como mãe-de-salih, doce turco, bocados-para-roer, geleia de sésamo, bolos-de-Alma'num, pentes-de-âmbar, dedos-de-alfenim, pão-das-viúvas, bolinhos de chuva, bocaditos-do-juiz, coma-e-agradeça, tubinhos-dos-elegantes e quiosquezinhos-da-paixão. Ajeitou todas essas espécies de guloseima na bandeja e colocou-a no cesto. O carregador lhe disse: "Ai, minha senhora, se você tivesse me avisado eu traria comigo um pangaré ou camelo para carregar comigo toda essa compra", e ela sorriu. Avançando um pouco mais, deteve-se diante do droguista e comprou dez frascos de essência de açafrão, igual quantidade de essência de nenúfar e duas medidas de açúcar; também pegou extrato de água de rosa perfumada, almíscar, noz-moscada, incenso, pedras de âmbar, castiçais para vela e outro tanto de archotes; enfiou tudo no cesto, virou-se para o rapaz e disse: "Erga o cesto e me siga carregador", e ele ergueu. A moça caminhou à sua frente até chegar a uma casa elegante dotada de um vestíbulo espaçoso, construção elevada, alicerces firmes, porta composta de duas lâminas de marfim cravejado de ouro cintilante. A moça se deteve diante da porta e bateu com delicadeza.
E a aurora alcançou Sahrazad, que parou de falar."
 
(28ª noite das 1001 noites - Volume I - ramo sírio; traduzido diretamente do árabe por Mamede Mustafa Jarouche; Biblioteca Azul)
 
 
 

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