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terça-feira, 12 de julho de 2022

São Paulo: procura-se uma saída

A cidade de São Paulo tornou-se inviável. É um fato. Tanto assim que, com a pandemia e a implantação do trabalho remoto para uma pequena e felizarda parcela da população, muitas pessoas resolveram migrar para cidades vizinhas, como Santos, Jundiaí, Sorocaba, Piracicaba etc. A pandemia ensinou algumas coisas e muitas pessoas saíram de SP em busca de uma melhor qualidade de vida, de verde, ar puro, silêncio ou, simplesmente, mais tempo com a família.

Da verticalização nem se fala. A cidade cresce para para os lados, mas sobretudo para cima. Foi realmente incrível a quantidade de novos edifícios levantados na cidade nos últimos dois anos. A construção civil foi um dos únicos ramos que cresceu na pandemia. Cada vez mais se vê menos vilas e mais prédios. Na Vila Mariana, em particular, o cenário é triste. A mudança na paisagem está acontecendo a olhos vistos. Grandes construtoras compraram e derrubaram muitas casinhas, predinhos, sobrados... Vem a demolição, colocam tudo abaixo. Constroem prédios altos, de todos os tipos e alguns muito perto da calçada. Caminhões, terra, caçambas, obras, barulho, cimento. A cidade vira um inferno. A verticalização prossegue. Para onde?

Não existe amor em SP já cantou Criolo, "onde os grafites gritam" nos muros, nas pontes e viadutos. É uma cidade de contrastes, que assusta quem a cruza em linha reta, da Faria Lima ao Capão Redondo. Precisa ter estômago... E pulmão de aço. As almas sensíveis sucumbem à degradação da paisagem. A falta de horizontes e de verde acabam por levar à depressão. Nas periferias, a falta de parques, de verde e de equipamentos públicos deixam os jovens sem perspectivas de mudança. Já nos bairros ricos e endinheirados, vê-se surgir na paisagem verdadeiros enclaves fortificados, uma cidade de muros altos e concreto segregador. Leiam Raquel Rolnik, Teresa Pires Caldeira.

Outra marca registrada são os rios poluídos. É de dar dó. E de tampar o nariz... O rio Tietê e o rio Pinheiros são esgotos a céu aberto, principalmente nos trechos em que o rio é considerado "morto", já que não consegue abrigar vida porque há pouco ou nenhum oxigênio dissolvido na água. Se é que se pode chamar aquilo de água. O despejo de esgoto sem tratamento já levou o antropólogo Darcy Ribeiro a dizer, com justeza, que os paulistanos não sabem tratar seus rios.

Há quem goste de morar na cidade. Sem dúvida, é um lugar de oportunidades para trabalhar (comércio, startaps, escritórios, residências, prédios etc.) e estudar (escolas, universidades, faculdades, institutos etc.). Há oportunidade de trabalho em quase todos os ramos, da construção ao comércio, de serviços domésticos a tecnologia de informação. Há cursos de todos os tipos na cidade. Se você quiser aprender grego, hebraico ou mandarim, certamente irá encontrar um curso que atenderá suas necessidades. Mas o preço para se morar em São Paulo é caro. O preço das faculdades, dos transportes e dos aluguéis é caríssimo. Mas não é só. A poluição da cidade também faz o seu estrago. Os níveis atuais de poluição em São Paulo reduzem a expectativa de vida em cerca de um a três anos, gerando problemas como o câncer de pulmão e de vias aéreas superiores, como asma, rinite, bronquite e sinusite. Graças a Deus existe o parque do Ibirapuera para arejar a mente, andar, correr, andar de bicicleta, patins, skate etc. Mas quantos tem a sorte de morar ali por perto?

A São Paulo de hoje não é mais a cidade feia e bela de antigamente, a São Paulo dos novos baianos, dos anos 60, da época dos saudosos festivais da Record, quando os artistas moravam no centro, na Avenida São Luiz e Consolação e alguma coisa acontecia quando cruzavam a Ipiranga com a avenida São João. Naquela época ainda era uma cidade de encontros possíveis em espaços públicos, nas ruas, nos bares, nos restaurantes, nas faculdades, nos teatros. Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Rita Lee, Chico Buarque se encontravam nas praças. Igualmente, a São Paulo de hoje não é mais a cidade do início dos anos 90, na administração Luiza Erundina, quando tinha um planejamento da cidade para todas as classes sociais em projeto cultural inclusive, com shows no MASP e no Anhangabaú. A cidade hoje é mais dura, feia, veloz e violenta. E, fora de alguns poucos circuitos, tornou-se uma cidade interditada para o afeto coletivo. "O avesso do avesso do avesso".

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